Ser ou não ser? Quem é cristão?

   
   Senhoras e Senhores! Respeitável público! Começa agora, com exclusividade, o Grande Espetáculo. Estrelando o Pastor...não, Pastor já caiu em desuso...Estrelando o Bispo...também não, Bispo é uma classe sem prestígio...Estrelando o Apóstolo...acho melhor trocarmos o nome outra vez. Em vez de Apóstolo poderíamos chamá-lo de Messias II. Que tal?
   Parece brincadeira, mas não é. O assunto é mesmo muito sério. Fico me perguntando, às vezes, quando irá terminar essa banalização da fé. Aguardando com ansiedade a extinção desses impostores que se intitulam líderes espirituais. Existem muitos soltos por aí lavando dinheiro, passeando de lancha, construindo impérios midiáticos e adentrando os lares de milhões de pessoas. Não satisfeitos com o monopólio da madrugada, chegaram ao horário nobre da televisão.
   Apesar da aparência espiritualizada de alguns, da fala mansa e dos supostos milagres, não se deixe enganar. Peço, ou melhor, imploro para que você não cometa o gravíssimo erro ao afirmarem que tais homens são cristãos. O próprio Cristo nos alertou dizendo que nem todos que dizem “Senhor, senhor” agem de acordo com o que pregam, e por isso não são dignos de entrar no Reino de Deus.
   No Sermão do Monte, Jesus ensina ao povo qual o comportamento dos moradores desse Reino. Bem-aventurados os mansos, humildes e pacificadores. A estes o Reino lhes foi reservado. Tais palavras influenciaram o escritor russo Leon Tolstoi a desenvolver a doutrina da não-resistência: “Não resistais ao mal” (Mateus 5:39).
   O não reagir frente ao mal sem o uso da violência não implica em resignação. Não significa passividade em meio a qualquer tipo de injustiça. Temos como exemplos práticos na história, mobilizações que, sem empregar o uso da força, modificaram situações adversas e deram saltos significativos.
   Gandhi, ao ler a recém terminada obra O Reino de Deus está em Vós, de Tolstoi, saiu da Inglaterra e voltou para índia com a doutrina da não-violência. Essa foi a luta que sem armas, apenas a desobediência civil, tornou a Índia livre da colonização britânica. Mais adiante, nos Estados Unidos, o reverendo Martin Luther King, usou os mesmos princípios para acabar com as leis segregacionistas que prejudicavam a população negra. Ambos lutaram contra “um mal” sem requerer a prática da guerra. Alguns argumentam que o trabalho foi inacabado, pois os dois foram assassinados. Na Índia, após a morte de Gandhi, os confrontos aconteceram negando os princípios da não-violência e o território muçulmano virou um Estado altamente belicoso que é o Paquistão. E nos Estados Unidos, os negros ainda são descriminados e são a etnia em maior número entre os mais pobres. Isso é fato, eu até concordo, mas o legado que Gandhi e Luther King nos deixaram é impagável. Pois mostraram que é possível, e que só não deu segmento porque a própria violência calou esses homens. Mas Obama está aí para mostrar que se não fosse o Reverendo King e o movimento da não-resistência não teria um negro ocupando o cargo de chefe de Estado do país mais poderoso do globo.
   Diante disso, podemos com nitidez destacar o que é o Evangelho, exatamente mostrando o que ele não é. A inquisição medieval, as cruzadas, a imposição jesuítica e a intolerância puritana não estão associadas aos ensinos de Jesus Cristo e não possuem nenhuma relação com ele. As instituições religiosas denominadas cristãs agiram inúmeras vezes de maneira anticristã.
   Igualmente, esses “chacrinhas eclesiásticos” também não são e nunca foram representantes ou porta-vozes do Cristianismo. Não devemos retribuir a intolerância propagada por eles, assim em nada nos diferenciaríamos. Nossa atitude deve ser a de não dar IBOPE. Não xingue, não discuta e não argumente. Apenas evite assistir. Se de fato somos cristãos ou queremos ser, precisamos evoluir tanto espiritualmente quanto socialmente. Temos que vivenciar a moral absoluta do Amor ao Próximo. Mesmo que esse próximo seja um inimigo declarado. São Paulo já dizia que devemos considerar os outros superiores a nós mesmos, e não apenas nos importarmos com nossos problemas particulares. Quem é verdadeiramente cristão ama e é movido por amor. Será que o homem contemporâneo, capitalista e egocêntrico assimilaria essa doutrina? Que bom seria se isso fosse possível. Vivenciar a Regra de Ouro que diz que devemos tratar os outros como gostaríamos de ser tratados (Mateus 7:12). Como o mundo seria diferente. O Reino de Deus ficaria bem mais evidente.
   Convertei-vos ou perecereis! Isso não é uma profecia que prevê o futuro. Apenas antecipa. Olhe ao seu redor e veja como a Terra agoniza. Problemas sociais e ambientais alimentados por uma humanidade que não se volta para o Deus de amor e que não é capaz de reconhecer aquilo que Jesus chamou de pobreza de espírito. Se reconhecêssemos aí sim, alquela oração tão repetida que diz “venha a nós o Vosso Reino” soaria não como uma ladainha, mas como uma verdade eminente. O Reino de Deus está em vós, isso se Deus estiver em vós.

“E não temais os que matam o corpo, mas que não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode destruir a alma e o corpo”.

Mateus 10:28