quinta-feira, setembro 09, 2010

Pastores Maquiavélicos

      Assistindo ao guia eleitoral, vi a quantidade de pastores evangélicos candidatos a uma vaga no poder legislativo, além dos eclesiásticos há também os cantores da linha gospel, querendo transformar fãs em eleitores. Diante das suas propostas, seus discursos e até históricos na política - muitos deles já têm mandato - eu me dei conta de como eles são maquiavélicos. É engraçado esse adjetivo. Maquiavelismo tornou-se sinônimo de monstruosidade e oportunismo. Mas seria Nicolau Maquiavel, autor da memorável obra “O Príncipe” tão maléfico assim? A sua fama sombria é tamanha. Tanto que na Inglaterra, tem-se uma forma peculiar de chamar o Diabo de Old Nick (Velho Nicolau). Trataremos disso um pouco mais adiante, o que gostaria de fazer agora é esclarecer o porquê que o temo maquiavélico está sendo usado para designar esses pastores.

    Segundo dizem, a máxima para resumir O Príncipe seria: O fim justifica os meios. E isso não esta completamente errado. Porém tirado do seu contexto gera o equivoco de que para permanecer no poder, toda e qualquer atrocidade é válida. Maquiavel deve ser visto dentro do seu tempo e espaço. Para ele, um Principado forte seria a solução para resolver a inconstância da política de Florença e uma futura unificação da Itália, o que era o sonho desse republicano, e não absolutista como muitos por aí afirmam. Mas como essa frase é usada como sinônimo de maquiavelismo, mesmo que de forma deturpada, então não há um melhor adjetivo para se usar referindo-se aos políticos e candidatos evangélicos. A bancada evangélica no legislativo estadual e federal é, em grande parte, composta de pastores que fazem da política (o meio) um trampolim para aumentarem a sua influência religiosa (o fim). O que está em jogo é a sua imagem e da sua denominação. Nesse período eleitoral o púlpito das igrejas é transformado em palanque e Deus só é mencionado como sendo o apoio-mor para o candidato (parece que a imagem do Criador é idêntica a de Lula nesse aspecto). Com isso os evangélicos, parte significativa de uma população pouco esclarecida, se deixa levar pelo discurso travestido de “Sã Doutrina” e elegem esses homens que não tem a mínima noção do que seja a administração pública, mas que acham que por liderar suas congregações, poderão se sair muito bem nessa nova empreitada.

    Obviamente, nem todos são assim, generalizar é sempre uma estupidez. O maior exemplo talvez seja o da candidata a Presidência da República pelo Partido Verde, Marina Silva. Ela congrega na maior denominação evangélica do Brasil, a Assembléia de Deus, mas não mistura política com religião. Talvez por isso não tenha o apoio formal de sua igreja. Observando as coisas por outro aspecto, Marina Silva também pode ser considerada maquiavélica, mas aí a justificativa seria completamente diferente, e serviria para responder a pergunta feita anteriormente: Seria Nicolau Maquiavel tão maléfico assim? O estigma do autor de O Príncipe está ligado a sua proposta de proclamar a autonomia da política, separando o poder temporal do poder religioso. Falar isso na Itália, sede do Catolicismo Romano, e no início do século XVI, era muita audácia. Com essa sua proposta ele foi rechaçado pelos religiosos de sua época, católicos e posteriormente os protestantes. O cardeal-Arcebispo de Canterbury, Reginald Pole, julga O Príncipe escrito “pela mão do Demônio”. Condenada pelo Concílio de Trento, em 1557, a obra é colocada no índex.

    A obra de Maquiavel tinha uma proposta muito limitada, acabou tomando dimensões gigantescas e atormentou a humanidade por muito tempo, como ainda atormenta, apesar de ser mais comentada do que lida. Mas julgá-lo, como inquisidores medievais, é algo deplorável para a sociedade pós-moderna. Precisamos ler O Príncipe, e perceber que a forma de se fazer política não mudou muito de lá pra cá. Maquiavel de maneira crua já dizia que basta ao Príncipe ter a aparência das boas virtudes, e não necessariamente possuí-las. Guardando-se apenas dos vícios que podem enfraquecer o seu poder. E quantos de nossos políticos, evangélicos ou não, mantém a aparência, mas continuam com os vícios? E são exatamente esses vícios que fazem com que o país, embora vivendo numa crescente economia, não reverta isso em benefícios para a população. Reserva-se para o povo, apenas promessas de um futuro que custa chegar.

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