segunda-feira, outubro 11, 2010

Inovação e Permanência

    Sem dúvida as Eleições Presidenciais de 2010 serão um marco para a recente história democrática brasileira. Fazendo uma análise bem superficial, essas eleições mostraram o perfil da nossa sociedade. E comparando a sociedade ao longo dos séculos, desde o período colonial, passando pelo império e chegando até a república, veremos que muita coisa mudou e algumas outras, ao contrário do que muitas pessoas imaginavam, ainda continuam enraizadas no âmago da nossa gente.

    Não é de hoje que as mulheres vêm conquistando o seu espaço. Estão presentes em locais ainda dominados pelos homens, porém mesmo como minoria, mostram bom serviço e não se intimidam. Os programas futebolísticos nas rádios e redes de televisão estão apostando cada vez mais nas comentaristas femininas. Coisa que há duas décadas não se via, e nem se cogitava tal hipótese. Logicamente, na esfera política as mulheres vêm ganhando notoriedade. Na eleição passada, que reelegeu Lula em 2006, a candidata do PSOL, Heloísa Helena, chamou a atenção nos debates e teve uma votação expressiva. Outra candidata não foi tão bem no mesmo ano. A cientista política, Ana Maria Rangel, do PRP, foi tão inexpressiva que eu aposto que você não se lembrava dela, ou melhor dizendo, nem sabe quem é. Confesso que também não lembrava e nem lembrei.

    Quatro anos depois, tivemos mais duas mulheres pleiteando o cargo máximo do poder executivo. E com bastante representatividade. Dilma Rousseff , do PT, já marcou seu nome. Mesmo se não for eleita, já é a primeira mulher a chegar ao 2º turno. Marina Silva, do PV, também foi muito bem. Apresentada por muitos como o grande destaque nos debates televisivos, teve muitos votos nas áreas urbanizadas do país, ficando em primeiro lugar em Brasília. Sua crescente, que seus partidários chamaram de onda verde, foi a grande responsável para contrariar todas as pesquisas que apontavam a candidata do PT como a eleita ainda no 1º turno.

    Se somarmos os votos de Dilma com os de Marina, teremos uma parcela superior a 60% que não vêem problemas em serem governados por uma mulher. Seria o fim do machismo no Brasil? Ainda é muito cedo para tal afirmativa. Porém já nos dá um bom indício de que as coisas estão mudando. Pelo menos nesse aspecto tivemos um avanço significativo. E caso, Dilma Rousseff seja eleita, afirmo que, guardando as devidas proporções, tal fato é semelhante a eleição de Barack Obama nos Estados Unidos.

    Mas se por um lado vimos um avanço, em outra esfera vemos a perpetuação da influencia religiosa. Política e religião andam de mãos dadas desde os primórdios na civilização. No Brasil a primeira vez que aparecem juntas é na missa do descobrimento. Ao inverso do que diziam muitos pensadores no início da Idade Moderna, a religião não se extinguiu. Em vez disso, ela se adequou aos novos tempos, se modernizou, angariou novos fieis e hoje continua firme e forte. Fortíssima, diga-se por sinal, ao ponto de influenciar diretamente na corrida presidencial.

    Um boato foi propagado na internet, e várias pessoas receberam um email com uma suposta declaração de Dilma, onde ela teria dito que nem Cristo arrancaria a sua vitória no 1º turno. Essa boataria enfureceu milhões de evangélicos, que são 30% da nossa população. Muitos pastores fizeram uma campanha anti-dilma nas suas congregações. Como só essa frase, sem fontes que comprovassem que a candidata teria mesmo dito isso, o plano B foi minar os fieis acusando o partido de Dilma, o PT, de defender princípios que estão em desacordo com o Evangelho, tais como a legalização do aborto. O resultado disso nós já sabemos. Muitos católicos também aderiram essa campanha e o resultado nas urnas mostrou que a moral religiosa cristã ainda é forte no Brasil.

    Agora na propaganda do segundo turno, Dilma e Serra estão com os discursos religiosos na ponta da língua. A petista em seu guia começou agradecendo a Deus por muitas graças, enquanto que o candidato tucano disse que a sua campanha está firmada na moralidade cristã. E por falar em moral, qual seria a dessa história? Bem, se de fato a candidata Dilma Rouseff pronunciou essa infeliz frase, ela experimentou que se Cristo não tirou a sua vitória, os seus seguidores a tiraram em nome dele. Vamos esperar pra ver qual o desfecho disso tudo.

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