segunda-feira, fevereiro 21, 2011

dAdAíSmO

















“Pegue um jornal. Pegue a tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-se num saco. Agite suavemente. Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se parecerá com você. E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa,ainda que incompreendido do público.”
                                                                                                   
                                                                                                  Tristan Tzara

   Ao ler essa declaração de Tzara, você deve estar então se perguntando: Ele está “tirando onda”, não é? De fato é uma declaração irônica de um dos criadores do Dadaísmo. Esse movimento surgiu em 1916, em Zurique, na Suíça. O prefixo “dada” expressa a irracionalidade e não quer dizer absolutamente nada. Em francês significa “cavalo de brinquedo”, mas tem quem diga que seja uma referencia ao balbucio de um recém-nascido, como se fosse “gugu, dada”.

   Não pense você, porém, que os fundadores do Dadaísmo eram apenas excêntricos e desoculpados. Eles estavam criticando uma sociedade dita pós-moderna, dita civilizada, que vivia a proclamada Belle Epoque (Bela Época) e que apesar disso estavam envolvidos em uma grandiosa batalha que começou em 1914. Já havia dois anos que a Europa estava mergulhada na I Guerra Mundial. Cidades destruídas, milhares de mortos e feridos, escassez de alimentos. Tudo isso promovido pela sofisticada burguesia.

   Para os dadaístas, nada fazia sentido. O homem havia criado tantas coisas boas e úteis. Tantas inovações científicas e tecnológicas. E para que? Para se autodestruírem? Na ótica de Tzara, Durchamp, Ball, entre outros, tudo era ilógico, inclusive a arte, mais um produto da burguesia. Por isso que seus poemas não possuem estética ou semântica. A arte não deveria ser mais levada a sério uma vez que os seres humanos não se levavam a sério.

   Quando o movimento surgiu, os seus adeptos escandalizaram a sociedade com suas “obras”, chamadas de ready-mades, que eram objetos escolhidos por acaso, sofriam uma pequena intervenção e ganhavam nomes irônicos. Quem se destacou nessa área foi o francês Marcel Durchamp, os seus ready-mades que mais chamaram a atenção foram Fontain (fonte) que era um mictório virado de “ponta à cabeça” e Roda de Bicicleta, as imagens que estão nessa postagem. Como podem ver, nem a roda serve para andar, nem o banco serve para sentar.


    

Um comentário:

  1. Essa postagem é muito boa...Quando estudava, na disciplina de Literatura falava brevemente sobre o Dadaísmo, e nunca vi ser explorado esse lado da denúncia aos valores burgueses, a impressão que dava era de que eram mesmo um bando de excêntricos. Meus parabéns!!!

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