terça-feira, fevereiro 08, 2011

De Volta para a Colônia

    
    Imagine você dentro de uma cápsula capaz de voltar no tempo. Digita-se o local e a data exata na qual se pretende chegar, e dentro de alguns segundos chega-se ao destino final, que você mesmo escolheu. Maravilhoso, não?  Sei muito bem que essa não é uma ideia original. Vários livros, desenhos, quadrinhos, seriados de televisão e filmes levaram o público para o passado ou para o porvir, e essa é uma fórmula de sucesso. Quando garoto, ficava ansioso com o anúncio do filme “De volta para o futuro”, adorava as aventuras do Dr. Brown e do seu assistente Martin. Hoje ainda assistiria ao filme numa boa, e como uma criança, me veria pilotando aquela máquina até voltar uns 450 anos. Não sairia do Brasil. Visitaria o nosso país, só que ciente de que ele não seria o mesmo.

    Alguém pode até pensar e falar que fiz uma péssima escolha, que teriam lugares melhores para explorar, datas mais remotas e blá, blá, blá. Gosto não se discute, assim diz um ditado popular. Mas eu sei bem que essa rejeição acontece porque a nossa história é contada de maneira enfadonha e superficial. O período colonial é riquíssimo de detalhes, que não são contados nos livros didáticos. Pouco se sabe do dia a dia dos habitantes do nosso país. Visitar um Engenho do século XVI seria uma experiência assombrosa. Veria que a Casa Grande, local na qual o Senhor de Engenho e sua família residiam era muito pobre com relação à mobília. Os escravos e os seus donos não se distinguiam, pelo menos na forma como comiam. Usar talheres era coisa rara. As refeições eram feitas com a pessoa agachada (acocorada) e levando a comida até a boca usando as próprias mãos. Geralmente comia-se nos quartos ou na cozinha, que ficava do lado de fora da casa.Inexistia um local específico para fazer as refeições.

    E por que isso? Porque a noção de riqueza era muito diferente da que temos hoje. A ostentação estava no modo se vestir e na quantidade de escravos possuídos. Algo bastante diferente também eram os hábitos de higiene pessoal. A prática que hoje temos de tomarmos banho diariamente devemos agradecer aos índios. Entre os colonos, a forma de se higienizar consistia apenas em trocar de roupa. Mudava-se mais a camisa, e geralmente uma vez por semana. Banho mesmo só uma vez por mês, e sem demorar muito. Esse hábito vinha da Europa, que possui um clima muito diferente do nosso calor tropical. Dá pra imaginar o cheirinho peculiar dos primeiros colonos? Melhor pularmos essa parte.

     As diferenças não param por aí. São inúmeras: o feijão não vinha acompanhado do arroz, o português disputava espaço com o tupi nos diálogos, principalmente na região sudeste, ocupada por jesuítas, bandeirantes e indígenas, mulheres não podiam andar sozinhas pelas ruas, mesmo aquelas que estavam em processo de divorcio, ao contrário do que muitos pensam já existia sim a anulação de matrimônio. E por falar em mulheres e curiosidades, D. Brites de Albuquerque assumiu o governo da Capitania de Pernambuco, após a morte do seu marido Duarte Coelho, em 1554, tornando-se a primeira mulher a assumir essa função nas Américas. Era um Brasil diferente do que conhecemos, e estou certo de que você adoraria passear por ele também. É uma pena não termos essa tal máquina do tempo...

2 comentários:

  1. rapaz, acho que não gostaria muito não. comer agachado, ficar sem banho entre outras coisas; seria conflitante com nossos atuais hábitos. vc não acha????

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  2. Meu grande amigo Inaldo, logicamente que seria conflitante, assim como se você viajar para algum país oriental, como a China ou a Índia. Se tal máquina do tempo existisse, qualquer volta ao passado seria conflituosa com o nosso estilo de vida pós-moderno. Mas a idéia é dar apenas uma passada breve e não ficar morando no passado. O problema seria se a máquina desse defeito e ficássemos presos lá, já pensou? E quanto ao banho, sei que esse seria o aspecto que você menos estranharia, não vem me enrolar que eu te conheço...rsrsrs...

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