segunda-feira, junho 06, 2011

Racismo, Ciência e Genocídio

Quando se fala em “raça superior”, campos de concentração e genocídio, sempre associamos a Alemanha nazista e ao holocausto judeu, ocorrido no período da II Guerra Mundial (1939/45). É como se essas atrocidades fossem um fato isolado na História, cometido apenas por um “monstro” degenerado chamado Adolf Hitler. Mas durante o neocolonialismo (dominação européia na África e na Ásia), no século XIX, milhões de pessoas foram mortas por serem consideradas inferiores. Diversos grupos étnicos foram exterminados, enquanto isso, a alta sociedade na Europa, justificava tais atos, embasados no Darwinismo Social e posteriormente na Eugenia.

Em 1803, os britânicos conquistam a Tasmânia. Lá viviam cerca de 5 mil nativos isolados do restante do mundo. Aquela ilha serviu de lar para aquele povo por cerca de 10 mil anos. Porém os tasmanianos foram dizimados num espaço de tempo extremamente curto. Dez milênios de história e cultura foram arrasados em menos de um século. A chamada “Guerra Negra”, o combate desleal onde os colonizadores ingleses assassinavam os tasmanianos, na década de 1820, manchava a reputação britânica de “império benevolente, defensor dos fracos e oprimidos”. O que os outros iriam pensar se descobrissem que a “nação abolicionista” estava matando os aborígenes da Oceania?

O governador da Tasmânia, George Arthur, inicia então uma campanha de integração social, cabendo ao Missionário Robinson, a tarefa de “civilizar” 300 tasmanianos, fazendo com que eles passassem a residir em uma vila que ficava localizada numa pequena ilha vizinha. Essa tentativa fracassa na medida em que os tasmanianos começam a morrer um a um, ora infectados por vírus europeus, ora depressivos por verem que o seu povo, seus parentes foram exterminados, não sobrando muita coisa de sua terra e de sua cultura.Nessa época, a mentalidade cristã, de que os povos nativos eram irmãos, apesar de inferiores, criados por Deus e descendentes de Adão, ainda gerava um sentimento de culpa no colonizador europeu, que enxergava como um ato de nobreza, cristianizar e civilizar aqueles “pobres seres primitivos”.

Não tardará para que a ideia de cristianização dos povos nativos seja descartada. Anatomistas, como o inglês Robert Knox, estudando cadáveres de negros, ameríndios e aborígenes, concluem que essas “raças” estão mais para animalescas do que para humanas, com isso, é uma baita perca de tempo concretizar esforços para ensinar “os bons costumes à seres tão bestiais”. Essa concepção aumenta quando Charles Darwin lança A Origem das Espécies, em 1859. A sua teoria da Seleção Natural, diz que só as espécies mais fortes se adaptam ao processo evolutivo e sobrevivem. Os mais fracos ficam pelo caminho, a própria natureza se encarrega de extingui-los. Isso iria respaldar, posteriormente, o “Holocausto Vitoriano” ocorrido na Índia e o extermínio de 3500 nativos da Namíbia, pelos colonizadores alemães na Shark Island (1904 à 1909).

O Darwinismo Social é baseado na teoria da Seleção Natural, porém Darwin em sua obra refere-se apenas aos animais. Mas a lógica dos darwinistas sociais era a seguinte: Se entre os insetos, há insetos que dominam insetos, o mesmo aplica-se aos seres humanos. O próprio Charles Darwin será favorável a tal argumentação, anos mais tarde. Assim, os europeus passam a ser considerados os mais aptos enquanto que os nativos dos outros continentes passam a ser os menos aptos. No topo dessa cadeia estão os ingleses, detentores de um vasto império, e pioneiros da industrialização.

De acordo com essa nova perspectiva, a caridade é tida como sendo uma interferência no processo natural de selecionar os que vão continuar vivendo e os que devem morrer. Durante a Era Vitoriana (Reinado de Vitória que vai de 1837 à 1901), a Inglaterra vivia o seu apogeu econômico. Falar de Era Vitoriana é falar de um período esplendoroso para o Império Britânico, que expandiu seu território e aumentou a sua riqueza. Nessa época, a Índia era uma importantíssima colônia britânica, pois abastecia a sua metrópole urbanizada com produtos alimentícios. Toda a pompa da corte da Rainha Vitória contrastava com a miséria que assolava o povo indiano. Cerca de 30 milhões de pessoas morreram por inanição. Havia comida, mas estava estocada nos portos com direção a “Terra da Rainha”. Esse episódio foi encarado com bastante naturalidade. Se os indianos estavam morrendo, era porque não tinham aptidão para sobreviverem. Tudo não passava da ação da própria natureza eliminando os fracos da “face da terra”, deixando apenas os fortes.

Já em 1880, o primo de Darwin, o também inglês Francis Galton, transformará os problemas sociais em problemas biológicos. Isso porque a sua “ciência” considerava a criminalidade e a pobreza, como sendo traços genéticos herdados de pai para filho. Sendo assim, para construir um novo mundo, era necessário regulamentar a produção humana. Os “débeis” deveriam ser impedidos de se reproduzirem. Esse era o fundamento da Eugenia (bem nascer), que cruzou o Atlântico e se tornou “febre” entre os intelectuais estadunidenses.

Nas primeiras décadas do século XX, os EUA decretam uma “cruzada eugenista” com o objetivo de conter o avanço do “lixo humano”. Aqueles que eram tidos como incapazes não integravam um grupo racial exclusivo. Eles eram os pobres da cidade e do campo. Eram imigrantes europeus, negros, judeus, mexicanos, índios, alcólatras, epilépticos, deficientes físicos, deficientes mentais e criminosos banais.Na década de 1930, batidas policiais iam a caça dessas pessoas, arrancando-as de suas casas ou das ruas. Os “débeis” eram enviados até abrigos, onde eram submetidos a esterilizarão. Só no final da década de 1940, 36 mil homens e mulheres foram castrados ou esterilizados nos 29 estados norte-americanos que aprovaram as leis de esterilização involuntária.

Quando essa parte obscura da História,que foi propositalmente apagada dos livros didáticos, vem à tona, concluímos que o Nazismo não criou o conceito de “superioridade da raça”. Adolf Hitler apenas adaptou esse conceito já existente para reerguer o brio de uma nação que além de derrotada na I Guerra Mundial (1914/19) havia sido humilhada pelo Tratado de Versalhes e arruinada economicamente. A Alemanha nazista foi tão monstruosa quanto a Inglaterra imperialista do século XIX e os EUA eugenista do início do século passado.

2 comentários:

  1. Deveriam ter mais caras feito vc...pra desmascarar muita gente e muita história mal contada...

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  2. Chocante demais. E mais uma prova de que nenhum conhecimento acumulado ainda é conclusivo á evolução da humanidade. A transformação da sociedade é um produto intrincado de constante mutação .só não vê quem não quer . Apesar de tantos horrores da história,parece que ainda assim estamos um' pouquinho" melhor que no passado. E apesar de tanta evolução tecnológica ainda falta um longo caminho para se obter um espírito superior e menos bestial. Valha me Deuses

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