Recorrendo ao Perdão

Ontem lendo o jornal, deparei-me com o pedido de desculpas feito pelo Clero Católico Holandês para as vítimas de abusos sexuais, que segundo uma investigação independente apontou: são mais de 15 mil vítimas entre os anos de 1945 à 2010. Mediante algo tão nefasto a Igreja não teve dúvidas e apelou para um dos pilares do Cristianismo, isto é, a clemência. Ainda de acordo com a investigação, o Vaticano tinha conhecimento da maior parte dos abusos.

Se já sabia, por que não puniu? Ao que parece, a Igreja não queria ver a sua reputação maculada, por isso a medida tomada na maior parte dos abusos foi a de transferir o envolvido para outro lugar, onde o mesmo continuaria a exercer as suas incumbências religiosas sem nenhum constrangimento. Temos quer ser bem cristãos para perdoar tal omissão, para conceder indulto a essa “sujeira varrida pra debaixo do tapete”.

Falando em sujeira, não é exclusividade da cúria romana. Entre os falsos apostolados evangélicos e os pastores que na verdade são os lobos, há muito lixo escondido atrás dos púlpitos e dos altares de congregações multimilionárias. Temos que perdoar tanta coisa...principalmente a falha na propagação do Reino dos Céus. São denominações e mais denominações que criam os seus próprios guetos e não cumprem com a missão de ser sal da terra e luz do mundo. Estão sendo meras espectadoras do caos, muito ocupadas em exigir bênçãos acima de bênçãos, que não atentam para o irmão do lado que chora sem obter consolo.

E diante desse fracasso que a cristandade pós-moderna origina, ligo a televisão e vejo na Rede Globo um certo “Festival Promessas “ reunindo cantores da música gospel, dentre eles, Ana Paula Valadão que publicou no twitter que o Evento é para ser comemorado como sendo uma grande conquista da Igreja Evangélica Brasileira. Mas afinal, que conquista é essa que devemos comemorar? O fato de a mídia se interessar pelo mercado gospel? Pelos lucros gerados pela rede Globo? Pelas contas bancárias cada vez mais gordas desses “artistas” ? Ainda não sei bem qual o motivo para festejarmos...

O súbito interesse da “toda-poderosa” da Televisão brasileira é no consumo de uma parte da população que se diz evangélica. Esse grupo cresce a cada censo. Nesse contexto, torna-se necessário oferecer um produto com a “cara do consumidor”. Músicas que tem um apelo de auto-ajuda, muito longe do Louvor e da Adoração. Notem que a maioria das canções são cantadas na primeira pessoa (Eu, eu, eu...).

Para os cantores, a saída é a mesma: “Estamos evangelizando. É mais um espaço para transmitir a Palavra de Deus e falar de Jesus”. Discurso efêmero, pois na prática não frutifica. Quantos não ouviram e cantaram juntos: “entra na minha casa, entra na minha vida, mexe com minha estrutura...” e depois iam cometer os mais sortidos pecados sem mudança de caráter ou renovo de vida. Cristo disse: "Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos”. (João 14:15). Agir é mais que necessário. E agir correto, conforme as Escrituras.

Tenho tido alguns embates com um ex-aluno que se denomina agnóstico e que vez ou outra me aponta as falhas dos que se dizem cristãos. A disparidade entre o discurso e a prática é tamanha que ele afirma ser impossível seguir a Cristo. O que mais me dói é começar os nossos debates tendo que concordar com ele em suas queixas. E assim como o clero holandês eu também me desculpo por ser falho e não resplandecer o amor do Cristo Redentor. Finalizo mais uma com uma música do Fruto Sagrado. Essa diz: "Nos perdoa Deus por ter tanto fariseu se dizendo filho teu, mas que não convenceu..."