Um Expresso para Che e um Capuchino para Mim
Ao sair da repartição, tomei um caminho oposto. Como eu larguei mais cedo que o habitual, decidi passar numa banca de revistas. Fui numa que fica na esquina da Av. Hermes da Fonseca. Do outro lado da avenida observei um letreiro luminoso: Paris Café. Ao ler e fitar por alguns segundos aquela placa, falei comigo mesmo:
- Puxa! Nunca entrei numa cafeteria. Farei isso agora.
Comprei uma revista sobre artigos relacionados à História. Atravessei o asfalto até chegar ao outro lado da calçada. Parei bem em frente ao letreiro da cafeteria, fiquei ali por mais alguns segundos e entrei. Sentei na quarta mesa à direita. Antes de fazer o pedido, folheei a minha revista e não li nada. Estava somente passando a vista nas figuras. Eram monumentos, lugares, mapas e pessoas. Diversas representações humanas. Diversas gerações, ocupações, nacionalidades...Foi então que meus olhos miraram a famosa imagem do mito Che Guevara. Aquela barbada, de boina, um olhar perdido. Tive um delírio. Me deixei levar por esse devaneio. Dentro da minha cabeça imaginei que sentado naquela cafeteria, eu estava na ilustre presença de Che. Compartilharei meu sonho com vocês:
Eu: Grande Ernesto! Faz tempo que você chegou?
Che: Não companheiro, acabei de sentar-me. Mas vamos logo, não tenho muito tempo. Me dispus a responder as suas perguntas. Pode mandá-las.
Eu: Ora, ora, por que não tem tempo? Por acaso “time is money”?
Eu: Um capuchino está bom. Vamos pedir e começar logo o nosso papo. Me responde uma coisa? O que você sente ao ver a sua imagem ser tão vendida?
Che: Sinto que o maldito imperialismo yankke é fortíssimo. O Capitalismo lucra até com o retrato de um ferrenho inimigo como eu. E por pirraça, assim creio, escolheram essa foto que não gosto.
Eu: Não gosta? Mas por quê? Seria vaidade?
Che: Não sejas bobo. Não gosto porque não sou aquilo. Fui soldado. Guerrilheiro que pegou em armas em busca de justiça e igualdade. Lutei por um ideal. Mas não lutei sozinho. Tive muitos companheiros. Muitos braços fortes fizeram a Revolução. Não dignifiquem a mim. Dignifiquem a todos que deram o seu sangue. Não sou soldado. Fui soldado. Sou um homem comum, e não um mito.
Eu: Falando em vaidade. Você se viu nas telas do cinema? Quem foi o melhor Che: Gael Garcia Bernal ou Benício Del Toro?
Che: Não fui ao cinema. Os porcos capitalistas cobram muito caro. Vi através do DVD pirata. Eu não entendo de atuação, mas acho que ambos foram bons. Porém o filme Diários de Motocicleta me tocou. Foi bom recordar aquele percurso que fiz quando mais jovem.
Eu: Falando em DVD pirata: Você é a favor da pirataria?
Che: Sou favor de tudo que quebre, que destrua, que corroa o sistema capitalista. A pirataria faz isso? Então ela é minha companheira.
Eu: E o Socialismo? Morreu?
Che: Não existe Socialismo isolado. Esse foi um enorme erro de Fidel, Mao, Stalin e tantos outros que não expandiram o valor do regime socialista. Mas sabe o que morreu? A nossa conversa. Preciso ir agora. Você paga a conta.
Eu: Nada disso. Vamos socializar. Vou pagar nada sozinho.
Che: Pensando bem...o Socialismo esta morto sim!
Gargalhadas, tapinha nas costas e fim do delírio.
Esse foi um dos delírios mais interessantes dentre os seus contos jovem poeta! Super divertido e descontraído! Sucesso sempre! beijos
ResponderExcluirVerônica S. Dubois
Quem me dera ter o privilégio de tomar um cafezinho com o companheiro Che... Faria tantas perguntas, mas acho que no fim constataria que, infelizmente, se o socialismo (aquele pelo qual Che lutou) não morreu, está agonizando... e sairia com o gosto amargo de café na boca... triste.
ResponderExcluir