A mídia mais uma vez
faz um verdadeiro escarcéu com a desgraça alheia. A bola da vez é o julgamento
de Lindemberg Alves, que matou a ex-namorada Eloá em 2008, com a cobertura de
todas as redes de televisão que transmitiram vários momentos do rapaz, na
época, ameaçando Eloá com uma arma de fogo apontada pra ela. Quase quatro anos
após o trágico episódio, o réu está sendo acusado e a imprensa já trata como o “Maior
julgamento do ano”. E os urubus já sobrevoam pra comer a carniça.
O pior disso tudo é o
número de pessoas que passam o dia inteiro em frente ao Tribunal, como se eles
tivessem o dever de ali estar. Para as emissoras de televisão, isso é um “prato
cheio”. Estava hoje vendo o Jornal Hoje, exibido pela Rede Globo, e vi a repórter
falar que a advogada de defesa de Lindemberg teve que sair escoltada para não
ser agredida por populares. Em momento algum a jornalista ou os apresentadores
do tele-jornal se manifestaram em repúdio ou alertaram aos tele-expectadores
que essa postura não é correta.
Embora o Código de
Hamurábi, tenha sido escrito há quase quatro milênios, o seu princípio básico,
a dita “lei de talião” (olho por olho e dente por dente) parece ser o que realmente
voga entre a nossa população ávida por sangue. Meu Deus! A advogada do rapaz
está agindo de acordo com a Constituição brasileira. Pra que ocorra a sentença
a Justiça precisa ouvir os dois lados: acusação e defesa. Ela não é uma
criminosa pra que as pessoas queiram agredi-la, e se fosse, não é assim que se
faz justiça.
Há algum tempo aqui na
Vila em que moro, presenciei uma correria na qual diversas pessoas com paus e
pedras se dirigiam até uma casa. Todos gritavam: Tarado! Tarado! O acusado de
violentar sexualmente uma mulher e sua filha conseguiu escapar da horda inquisitória
e na delegacia foi constatado que ele era inocente e que a suposta vítima teria
inventado toda aquela história. Se tivessem pegado o homem? Quantos agora não
estariam com a consciência pesada por haverem linchado ou até matado uma pessoa
inocente?
Os veículos midiáticos,
as autoridades e até mesmo os educadores devem alertar a população que com
violência não se faz uma sociedade mais justa. Essas pessoas que estão paradas
em frente ao tribunal poderiam estar gastando esse tempo de outra forma. Fazendo
o bem, disseminando cultura, qualquer coisa proveitosa, menos está ali. Claro que
o Lindemberg deve responder pelo seu crime, mas o judiciário já está cuidando disso,
ninguém precisa esbofetear ninguém. Como disse Gandhi: “olho por olho e o mundo
ficará cego”. Isso se já não está...
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