Na
quitanda, o caçula de Santana apresentou os primeiros sinais da
caxumba. Cochilou ali mesmo, bem ao lado do tabuleiro de maxixe.
-
Vixe! Que moleque preguiçoso...
Sua
mãe, pensando que era dengo, ameaçou dar-lhe umas boas palmadas na
bunda, caso ele não se levantasse para debulhar o feijão. Mas o
pequeno Francisco estava se sentindo tão mal que nem esboçou reação
frente a ameaça de levar uma surra. Santana então percebeu que o
seu xodó estava mesmo dodói.
-
Me dê cá o pescoço, pra eu ver se está com febre.
Ao
colocar a parte externa da mão no pescoço do menino, sentiu a
quentura e o calombo:
-
Eita que é Caxumba! Eu lhe disse que aquela chuva que tu pegou com
os menino ia fazer tu adoecê.
-
Não foi não – retrucou o enfermo com a uma voz embargada.
Apressadamente,
Santana foi procurar ajuda pra levar seu filho até o cafofo onde
eles moravam, que ficava a umas quatro ruas dali. Zé Banguela, se
prontificou na hora. Parou com sua cachaça, botou o Francisco na
cacunda e o deixou em casa.
Passada
a enfermidade, a vida voltou ao normal. Mãe e filho davam duro na
quitanda durante o dia, e a noite caiam na roda de samba. Ah...o
Francisco era um exímio tocador de cuíca, e também, um bom capoeira.
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* As palavras em itálico são todas de origem africana, incorporadas ao Português falado no Brasil. Também são influências africanas a dupla negação (não foi não), a preferência pela próclise (me dê; lhe disse) e não marcar o plural do substantivo (os menino).
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