sexta-feira, outubro 05, 2012

Eita que é Caxumba!*


Na quitanda, o caçula de Santana apresentou os primeiros sinais da caxumba. Cochilou ali mesmo, bem ao lado do tabuleiro de maxixe.

- Vixe! Que moleque preguiçoso...

Sua mãe, pensando que era dengo, ameaçou dar-lhe umas boas palmadas na bunda, caso ele não se levantasse para debulhar o feijão. Mas o pequeno Francisco estava se sentindo tão mal que nem esboçou reação frente a ameaça de levar uma surra. Santana então percebeu que o seu xodó estava mesmo dodói.

- Me dê cá o pescoço, pra eu ver se está com febre.

Ao colocar a parte externa da mão no pescoço do menino, sentiu a quentura e o calombo:

- Eita que é Caxumba! Eu lhe disse que aquela chuva que tu pegou com os menino ia fazer tu adoecê.

- Não foi não – retrucou o enfermo com a uma voz embargada.

Apressadamente, Santana foi procurar ajuda pra levar seu filho até o cafofo onde eles moravam, que ficava a umas quatro ruas dali. Zé Banguela, se prontificou na hora. Parou com sua cachaça, botou o Francisco na cacunda e o deixou em casa.

Passada a enfermidade, a vida voltou ao normal. Mãe e filho davam duro na quitanda durante o dia, e a noite caiam na roda de samba. Ah...o Francisco era um exímio tocador de cuíca, e também, um bom capoeira.


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* As palavras em itálico são todas de origem africana, incorporadas ao Português falado no Brasil. Também são influências africanas a dupla negação (não foi não), a preferência pela próclise (me dê; lhe disse) e não marcar o plural do substantivo (os menino).

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