MONTAGEM COM UM TEXTO EM JAPONÊS POR CIMA DO ORIGINAL EM INGLÊS FALANDO SOBRE A VITÓRIA DO GRANDE JAPÃO
O
filme nacional, Corações Sujos, dirigido por Vicente Amorim é
baseado no livro homônimo de Fernando Morais e está em cartaz já
há duas semanas em mais de trinta salas de cinema do país. Além de
contar com um ótimo elenco, incluindo consagrados atores nipônicos,
o enredo trata de um tabu histórico, desconhecido por grande parte
da sociedade. No contexto pós Segunda Guerra, a comunidade de
imigrantes japoneses em Marília-SP ficou bipolarizada entre os que
não acreditavam na derrota do Japão e entre os crentes no fato mais
que consumado.
Os
primeiros imigrantes vindos da “Terra do Sol Nascente”,
desembarcaram do navio Kasato Maru em 1908 com o objetivo de
trabalharem nas lavouras cafeeiras. No início do século XX, o
Império Nipônico sofria com um crescimento populacional acelerado,
no qual gerou milhares de cidadãos desempregados. Por isso os
japoneses migraram aos montes e o Brasil foi o destino de muitos. É
tanto que logo, menos de 3 décadas, a “Terra Brazilis” se torna
o maior reduto da maior comunidade japonesa do mundo.
Só
que o nosso país tropical, abençoado por Deus e bonito por
natureza, estava longe de ser um lar. Situação agravada com o
nacionalismo varguista na época do Estado Novo (1937-45). Muitos
japoneses e descendentes nem sequer falavam o português. Não
queriam aderir a nossa cultura, queriam cultivar um pedacinho de
Japão no interior paulistano. Mas uma série de decretos-leis só
fez aumentar o clima de hostilidade. A xenofobia institucionalizada
proibiu de início o ensino de língua estrangeira, depois permitiu
para os maiores de 14 anos, além da coibição de qualquer
organização estrangeira em solo tupiniquim.
Quando
Getúlio decide que o Brasil entraria na Guerra em favor dos Aliados,
a rivalidade e perseguição aos imigrantes dos países
“inimigos” do Eixo atenuou-se. É nesse contexto que surge a Shindo Renmei
(Liga do caminho dos Súditos) para acrescentar mais intolerância e
violência num cenário que já não era dos melhores. Para eles, o
Japão não havia perdido a guerra e o Imperador Hiroíto era
venerado como se fosse uma divindade. E ai daquele que pensasse o
oposto!
Os
integrantes da Shindo aterrorizavam os moradores da Colônia e
manipulavam informações, sobretudo utilizando fotos-montagens e
falsas manchetes de jornal para demonstrar que o Grande Império
Nipônico havia triunfado. Alguns esclarecidos desmentiam tamanho
absurdo, mas era preciso coragem pra dizer que os “Súditos do
Imperador” estavam distorcendo os fatos. Vale lembrar que até
então, o Japão nunca havia perdido um conflito beligerante, os
meios de comunicação eram precários e as notícias sobre as
batalhas vinham dos veículos “adversários” escritos e falados numa língua no qual a maioria dos colonos não dominava. Difícil foi saber
em quem acreditar. Diante de tantas humilhações aqui vivenciadas,
aceitar a derrota não era mesmo uma tarefa fácil.
Essa história deve ser conhecida e melhor divulgada. Aconselho aqueles que assistirem ao filme ou os que preferirem ler a obra, se aprofundar mais nesse tema. O braço armado da Shindo Renmei (Tokkotai) saía na calada da noite vestido de amarelo em busca de matar os "traidores" que propagavam a rendição japonesa. Em 1946 a organização foi desmembrada, com seus principais líderes presos ou banidos do Brasil. Os números que envolvem esse episódio são: 23 mortes encomendadas, 147 feridos, 120 mil associados ao grupo e 600 indiciados no processo de condenação dos integrantes da Shindo. Eis o saldo da intolerância!
Nenhum comentário:
Postar um comentário