segunda-feira, novembro 02, 2009

Pão e Circo


   Milhares de brasileiros se divertiram com uma figura que apareceu na TV e fez brotar muitas gargalhadas com os seus bordões, dentre os quais o mais famoso é: “Ronaldo, brilha muito no Corinthians”.
   Sua imagem ficou tão exposta na mídia que virou até estampa de camisa e seus bordões repetidos diariamente por crianças e adultos. Qual o morador da Xurupita imaginaria que o Zina se tornaria um fenômeno, tal como o seu ídolo Ronaldo? Talvez ele imaginasse, ele sempre imagina. Mas uma notícia abalou muita gente. Nos noticiários figuravam as manchetes que diziam: “Humorista é preso por uso de drogas”. Mas ele não é humorista. Não é nenhum personagem, fruto do talento de um comediante, e muito menos é uma caricatura. Quem é o Zina afinal?
   A resposta é muito simples: O Zina é o retrato do Brasil. Um jovem de 28 anos, morador de periferia, que não tem os estudos completos e é usuário de drogas. Como se isso não bastasse, ainda possui esquizofrenia e toma por dia 12 medicamentos diferentes. Não são poucos no país que tem um quadro semelhante. E o que é pior, sem nenhuma assistência governamental.
   Meses atrás o vice-presidente, José Alencar, dava uma entrevista ao Fantástico e falava como a sua fé tinha lhe ajudado na luta contra o câncer. Faz anos que Alencar luta contra essa enfermidade e já passou por diversas cirurgias, sempre com fé em Deus.
   A mensagem para a população foi a de que com fé se consegue superar as dificuldades da vida. É um discurso muito bonito e comovente. Eu sou cristão e acredito em milagres, porém não posso engolir essas palavras que visam tapar o sol com a peneira.
   Não se trata de ter fé. A questão a ser discutida é outra. O governo tem a obrigação de oferecer um sistema de saúde funcional e de qualidade (é o que reza a nossa Constituição).Esse direito não é só meu, que tenho, e muito, fé em Deus. É também direito do cético e do ateu, que não acreditam em nada. É muito fácil falar em rede nacional que a fé remove montanhas quando se é tratado no Hospital Sírio-Libanês, um dos melhores hospitais privados do país, senão o melhor. Queria ver o nosso excelentíssimo vice-presidente proferir certo tipo de discurso se usasse os serviços do SUS. Talvez nem estivesse vivo. Morreria como morrem assalariados, desempregados, autônomos, aposentados, crianças, donas de casa, enfim, todos que precisam do nosso Sistema Inútil de Saúde.
   Enquanto boladas milionárias são solicitados para que o Brasil receba a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o governo de São Paulo dispõe de apenas cinco mil reais por mês para tratar pessoas com dependência química, o que é o caso do Zina. Imagina a disparidade. Cinco mil para todos os dependentes químicos se tratarem. Agora pensa nos milhões e milhões empregados para reformar e modernizar os nossos estádios de futebol.
   A velha forma de se governar oferecendo pão e circo ao povo. Esse é o maior legado deixado por Roma. Não é o latim, nem o direito. É o pão e circo. Zina, retrato da população, é mais um palhaço entre os 80% dos brasileiros que pertencem às classes mais abastardas de nossa nação tão desigual. E assim como ele falaremos em uníssono daqui a pouco mais de 4 anos:
   - Ronaldo, brilha muito nessa copa!

2 comentários:

  1. “Deixa eu brincar de ser feliz! Deixa eu pintar o meu nariz!!!” tal como a letra desta canção dos Los Hermanos, brincamos de ser feliz neste país tão desigual, a pobreza virou carnaval... O Zina, o retrato d um povo sofrido, cujo seus sonhos viraram piada nesta nação onde o sistema não funciona... Não funciona a educação, não funciona a saúde, mas funciona a política do pão e do circo, é o q o governo nos oferece, amenizando o descontentamento de um povo que a cada eleição tem a perspectiva de ordem e progresso, mas todo carnaval tem seu fim... Ainda assim o povo sorri e grita... RonaaaaldOoo!!!

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  2. E o mais triste de tudo isso..
    é que dentro de um curto espaço de tempo..nem ronaldo vai brilhar mais no corinthias,nem zina vai brilhar em canto algum,todo mundo vai esqecer o cara da xurupita,e vai aparecer outros "sucessos",e aquele homem--zina-- não vai passar de um personagem memoravél,mais sem tanta graça assim...
    e ele commo tantos outros,que retratam o brasil vão continuar suas vidas e seus problemas já tão rotineiros,e comuns.

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