Toca Raul

   Existe uma pergunta pertinente que todo o pai já fez ou ainda irá fazer para o seu filho:
   -  Que é que você quer ser quando crescer?
   Por trás dessa inocente pergunta está arraigada a ideologia capitalista do homem-máquina que só tem utilidade quando é capaz de produzir lucro. Por enquanto, a criança não passa de um ser inútil que desde cedo deve ser doutrinada que se quiser ser alguém na vida é preciso ir à escola.
   O infante ainda não está apto a assumir o status de “ser alguém”. Ele está mais pra algo. Ele é alguma coisa sem muita importância, mas que pode reverter essa condição quando crescer e se tornar alguém rentável o bastante para figurar no seleto grupo dos visionários homens de negócio.
   Muitas vezes, as crianças ao serem confrontadas em relação a sua futura profissão respondem de maneira lúdica que almejam tornarem-se bombeiros, astronautas, cantores ou jogadores de futebol. Por isso Jesus Cristo afirmou que o Reino dos Céus pertencem as criancinhas. Essas respostas são dadas por acharem que tais atividades são divertidas e excitantes. Elas não conhecem a fundo o mercado de trabalho, desconhecem a remuneração de cada classe,e não fazem ideia da notoriedade social de uma profissão em detrimento a outra. Isso pode ser melhor observado nos garotos que desejam ser pedreiros ou caminhoneiros, pelo fato do pai, ou outra referência afetiva, exercer tal função. Semelhantemente agem as meninas que querem ser veterinárias por gostarem dos seus bichinhos.
   Não satisfeitos com essas respostas, os pais, que sempre querem o melhor para seus filhos,matriculam os seus pequeninos nas escolas, para que o lúdico dê lugar ao racional. Lá eles aprenderão que nada deve ser feito com paixão. Deve-se escolher a profissão que dê mais dinheiro. Esse é o conselho mais martelado na mente de nossos pimpolhos inúteis. Afinal, eles são o futuro da nação, ou melhor dizendo, alguns deles, os que posteriormente gerarem receita.
   Depois ficamos como tolos perguntando o porquê da educação está tão precária. Quando a questão é muito simples: A educação castra o prazer e a diversão. É devido a essa realidade que Peter Pan recusa crescer e vai morar na Terra do Nunca. É muito melhor viver lá do que no Reino Burocrático e chato dos adultos.
   Colocamos um grupo de meninos enfurnados em um cubículo, chamado sala de aula, por aproximadamente 5 horas, enquanto do lado de fora faz um dia lindo para soltar pipa. Por que não aprender brincando? Seria isso uma irresponsabilidade? Eu creio sim que é possível aprender física num carrossel. Aprender química na cozinha, fazendo um delicioso bolo de chocolate e depois sentir o sabor resultante de um divertido aprendizado.
   Temos tantas ferramentas a nosso favor. A internet é uma ótima cartada. Até os sites que parecem fúteis podem servir para ensinar. O MSN poderia ser usado para que os alunos aprendessem ortografia. A criação de um blog poderia estimular a criação artística do alunado.
   Arte? Mas que tipo de arte? Seria uma arte lucrativa? Quanto iríamos faturar? Esbarramos nas cifras mais uma vez...
   - Que é que você quer ser quando crescer?
   Em uma de suas canções, Raul Seixas nos dá uma brilhante resposta: “Não adianta, pergutar não vale nada. É sempre a mesma jogada.Um emprego e uma namorada, quando você crescer”.
   Diante dessa chatice toda, ainda nos restam uns poucos momentos de entretenimento, como por exemplo um show de rock. Curtir um som e poder berrar:
   - Toca Rauuuuuul!