segunda-feira, dezembro 20, 2010

Um Pirata pra Cinema

              Em um passado recente, os filmes sobre piratas eram a grande sensação dos cinemas, competindo nas bilheterias com as estórias de faroeste. Nessa primeira década do século XXI, a franquia da poderosa Disney “Piratas do Caribe” trouxe de volta a fascinação pelo agitado mundo desses foras-da-lei, que atraídos pelas riquezas do Novo Mundo empestaram as águas do Atlântico, saqueando, pilhando, matando, entre outras cositas más.
                O ator Jhonnie Depp conquistou o público e a crítica ao interpretar o Capitão Jack Sparrow, um pirata atrapalhado, galanteador e de coração mole. Já Jean Lafitte, um legítimo bucaneiro caribenho, não só daria um ótimo personagem para a telona, como já deu. Em 1938 foi lançado o filme “The Buccanner”, dirigido por Cecil B. DeMille e estrelado por Fredic March. Se não bastasse ser imortalizado no cinema, Lafitte já havia inspirado um poema de ninguém mais, ninguém menos que Lord Byron. Além de ter um parque e uma reserva histórica nacional, e uma vila de pescadores na Lousiana, batizadas com o seu nome.
                Nascido em 1781 na França, Lafitte se lançou ao mar com 13 anos de idade. Seu destaque na pirataria foi na costa da Índia Britânica, onde com sucesso conseguiu capturar navios ingleses que até tinham armamento e tripulação maiores do que ele possuía. Só em pronunciar o nome de Lafitte, marinheiros britânicos sentiam a espinha gelar. Depois de famoso, decidiu ir para Nova Orleans, lá junto com seu irmão Pierre, se estabeleceram como ferreiros. Óbviamente, tudo não passava de fachada. O negócio de fato era a compra e a venda de produtos roubados por piratas da Lousiana. Há também rumores de que comercializavam escravos por um precinho camarada aos fazendeiros do Mississipi.
                Diziam que Jean era uma figura encantadora. Bonitão e ídolo da mulherada, era também um habilidoso negociante. Bem educado, falava quatro idiomas, e um comandante disciplinador. Apesar de seus negócios em Nova Orleans estarem indo de vento em popa, decidiu se mudar para a Baía de Barataria, situada no Golfo do México. Lá tinha quase mil piratas a seu serviço. Barataria se tornou um paraíso tropical construído por Lafitte, que transportava o seu contrabando até Nova Orleans, graças ao sistema de transporte por ele criado, que cortava os pântamos de Barataria. Porém a boa vida que desfrutava não iria durar por muito tempo. Em 1812, os Estados Unidos e a Inglaterra entraram em confronto pelo controle de vários canais marítimos na região da Lousiana. Essa briga não era nada boa para os negócios do pirata.
                A guerra teve início. Logo se espalhou um boato de que os ingleses tentariam tomar a parte inferior do Rio  Mississipi via Golfo do México. Como esse território era dominado por Lafitte, o governo americano temia que ele lutasse ao lado dos britânicos, passando a persegui-lo. Nesse contexto ocorre um episódio interessante e engraçado: O governador de Nova Orleans, Claiborne, espalhou por toda parte cartazes que ofereciam 750 dólares pela captura de Lafitte. Só que o governador não esperava que novos cartazes oferecendo o dobro pelo seu pescoço fossem colados nos lugares em que tinha colocados os de Jean.
                A questão da guerra com a Inglaterra tornou-se mais urgente, fazendo cessar o jogo de gato e rato entre o governador e o pirata. Lafitte havia recusado um convite dos britânicos e lutou a favor dos americanos. Ele e seus homens agiram heroicamente, e no dia 8 de Janeiro de 1815, a investida inglesa para tomar Nova Orleans foi frustrada. Mesmo em maior número, os ingleses recuaram, deixando pra trás vários mortos e feridos no campo de batalha. Pelo bom serviço prestado aos Estados Unidos, Lafitte e sua tripulação receberam do presidente James Madison, a anistia pelos crimes do passado.
                Felizes com a anistia, os piratas tiveram que sair de Barataria, uma vez que os americanos passaram a ter livre acesso a baía. Era isso ou então se ajustar a uma vida regrada, nos conformes da lei. Jean, seu irmão Pierre e vários seguidores se mudaram para Galveston, próximo ao Texas. Apesar de pertencer aos espanhóis, Galveston era pretendida pelos mexicanos, que na ocasião lutavam em prol de sua independência. Lafitte passa a ser um corsário a serviço do México, capturando e saqueando embarcações espanholas. Sua nova atividade lhe rendeu muitos lucros, chamando a atenção das autoridades que tentavam controlar a sua empreitada. Ironicamente, o mesmo homem que o anistiou - o presidente Madison - passaria a “caçá-lo”.
               Em novembro de 1820, o navio americano Enterprise aporta em Galveston e o tenente kearnay ordena que Lafitte e seus homens abandonem a ilha imediatamente. Encurralado, o pirata atende o pedido, mas antes provoca um incêndio, destruindo tudo que havia erguido naquele lugar. O “Terror do Golfo”, o “Rei de Barataria”, o “Heroi de Nova Orleans” partiu e seu destino até hoje continua sendo um mistério. O que aconteceu com ele? Não se sabe ao certo. Uns dizem que morreu em batalha, já outros dizem que contraiu a Peste. Certo mesmo é que a vida de Jean Lafitte é realemente coisa pra cinema.


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