segunda-feira, julho 11, 2011

Ironia Perdida



Moro no bairro do Arruda, em Recife, há 12 anos, onde ando diariamente e observo seus contraditórios entornos. Um espaço relativamente pequeno, com uma frágil infraestrutura de Serviços, convivendo com vizinhos que lhe roubaram a pujança inicial. Resta praticamente um grande supermercado, dois armazéns de construções e duas pequenas feiras semanais, sendo uma de Sulanca. O Estádio de futebol do Santa Cruz é o destaque de Grandeza, frequentado por umas das Torcidas mais fanáticas do Brasil, onde a População pobre comparece na alegria ou na tristeza.     
Bairro antigo, tradicional, residencial, com casarões espaçosos, abrigando uma Classe Média que foi obrigada a se deslocar das áreas mais centrais da Cidade. Hoje, essas mesmas casas se subdividiram em várias residências, contíguas, laterais, numa radical mudança, que retrata uma crise, mesmo assim ainda é possível perceber à noite, famílias em cadeiras na calçada.
O Bairro ainda é de uma insistente Classe Média que não entrega os pontos e não quer perder seu Status Pequeno Burguês. Mas a lógica da acumulação Capitalista também respinga no Arruda, onde a miséria mora ao lado, além do entorno de necessidades. Os  Cinturões de miséria se entrecortam e entrecruzam, favorecendo a máxima do Poeta “a Favela está grávida de Assaltantes”, e no Arruda as cadeiras estão deixando as calçadas.
Enfim, dia 24 de junho de 2011, saindo de casa, às 6 horas da manhã, ao lado da Companheira, nos deparamos numa esquina, com um rapaz de seus 30 anos, com a mão na barriga, a esconder um objeto, solicita-nos a descolar um Celular, alego que estamos caminhando, ele insiste e aponta meu bolso, mostro  R$ 4,00, ele pega e fala “me dá essa mincharia, vão com Deus”. Fiquei pensando no Deus dos Miseráveis, no Deus Capitalista, no Deus dos Banqueiros, no Deus dos Latifundiários, me revoltei e não aceitei o Deus que me impingiram.

                                                                         Prof. Afonso Ivo de Lira

Um comentário:

  1. Bem, evidente que o Mestre Ivo já virou um colaborador do Batedeira. Fico muito feliz com isso. Que vocês apreciem as suas crônicas que possuem uma conotação social de um homem que ainda visualiza o ser humano como um indivíduo peculiar e valioso, e não como mais um entre muitos fabricados...

    ResponderExcluir