quinta-feira, novembro 03, 2011

Tishória od Camaco (História do Camaco)


Bar Cinédia, reduto do Camaco nas décadas de 1960 e 1970.


Bem , em plena Segunda-Feira muitos comemoravam o Halloweeen, o que considero uma tremenda estupidez. Desculpem minha franqueza, mas é que me revolta ver que o nosso folclore nunca foi lá muito explorado, enquanto que o "gringo" começa a se popularizar. Onde está a nossa resistência frente à dominação cultural? Não quero acreditar que em nome de uma globalização imperialista, nossas raízes vão sendo esquecidas. Não quero mesmo.


Por isso resolvi escrever sobre algo interessantíssimo e pouco explorado. Trata justamente da resistência de um povo contra “o estrangeirismo metido à besta”: Cove base lafar Guinlagem Camaco?  Sei que não compreendeu patavina. A frase acima está escrita em  uma língua criada por operários que exploravam minério de ferro em Itabira-MG, entre o final do século XIX e o início do século XX.


O que disse antes foi: Você sabe falar Linguagem Camaco? O negócio é apenas trocar a primeira letra da segunda sílaba com a da primeira. Gepou lamandro? Não tem muito segredo, porém como tudo, de início a pessoa fica voando, mas depois pega o espírito da coisa. Os monossílabos é que não respeitam essa regra. O “não” foi adaptado para “ônis” e o “aqui” tornou-se “ariq”. Se alguém souber o porquê disso me diga por favor, pois eu não sei, e ninguém lá em Itabira vai saber te explicar.


Agora falando do nascimento do Camaco: Os operários da Cia. Vale do Rio Doce, os chamados “peões” da camada mais pobre, não se entendiam com os funcionários estrangeiros que falavam o Inglês, idioma que não era tão universal como nos dias atuais. Daí, eles decidiram criar a língua e se comunicavam entre si numa espécie de código secreto.  O Camco ali tinha a uma função clara de marcar as diferenças sociais e econômicas.


Com o tempo deixou de ser a língua em que os subordinados falavam mal dos seus superiores (sem que eles entendessem) e passou a ser adotada por outros setores da sociedade, principalmente entre os mais jovens. Estes usavam pra falar sobre namoro (tema tabu na época) na frente de adultos sem sofrerem nenhuma censura. Já nas décadas de 1960 e 1970 os boêmios e intelectuais juntavam-se no Bar Cinédia e lá eles lafavam por horas.


Quase não há registro escrito, o que torna o Camaco mais próximo de um dialeto do que de uma linguagem propriamente estruturada. Porém os moradores de Itabira mantêm-no vivo e pode se escutar a “fala da sílaba trocada” em ruas, praças e rodas de amigos. Aroga em pesronda: tosgou ed baser a tishória da Guinlagem Camaco? Vidulgue rapa dotos so agimos.


2 comentários:

  1. Tuimo gelal....ônis basia sido.....Rapabéns!!!

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  2. Muito interessante Thiago! De fato eu, junto à massa, não conhecia esta linguagem tão marcante... Algo que deveria ser mais explorado, afinal, vai conhecer um pouco mais da nossa cultura! Rapabéns Vojem Toepa!

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