terça-feira, agosto 28, 2012

Shindo Rinmei: Japoneses em Guerra no Brasil


MONTAGEM COM UM TEXTO EM JAPONÊS POR CIMA DO ORIGINAL EM INGLÊS FALANDO SOBRE A VITÓRIA DO GRANDE JAPÃO

O filme nacional, Corações Sujos, dirigido por Vicente Amorim é baseado no livro homônimo de Fernando Morais e está em cartaz já há duas semanas em mais de trinta salas de cinema do país. Além de contar com um ótimo elenco, incluindo consagrados atores nipônicos, o enredo trata de um tabu histórico, desconhecido por grande parte da sociedade. No contexto pós Segunda Guerra, a comunidade de imigrantes japoneses em Marília-SP ficou bipolarizada entre os que não acreditavam na derrota do Japão e entre os crentes no fato mais que consumado.

Os primeiros imigrantes vindos da “Terra do Sol Nascente”, desembarcaram do navio Kasato Maru em 1908 com o objetivo de trabalharem nas lavouras cafeeiras. No início do século XX, o Império Nipônico sofria com um crescimento populacional acelerado, no qual gerou milhares de cidadãos desempregados. Por isso os japoneses migraram aos montes e o Brasil foi o destino de muitos. É tanto que logo, menos de 3 décadas, a “Terra Brazilis” se torna o maior reduto da maior comunidade japonesa do mundo.

Só que o nosso país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, estava longe de ser um lar. Situação agravada com o nacionalismo varguista na época do Estado Novo (1937-45). Muitos japoneses e descendentes nem sequer falavam o português. Não queriam aderir a nossa cultura, queriam cultivar um pedacinho de Japão no interior paulistano. Mas uma série de decretos-leis só fez aumentar o clima de hostilidade. A xenofobia institucionalizada proibiu de início o ensino de língua estrangeira, depois permitiu para os maiores de 14 anos, além da coibição de qualquer organização estrangeira em solo tupiniquim.

Quando Getúlio decide que o Brasil entraria na Guerra em favor dos Aliados, a rivalidade e perseguição aos imigrantes dos países “inimigos” do Eixo atenuou-se. É nesse contexto que surge a Shindo Renmei (Liga do caminho dos Súditos) para acrescentar mais intolerância e violência num cenário que já não era dos melhores. Para eles, o Japão não havia perdido a guerra e o Imperador Hiroíto era venerado como se fosse uma divindade. E ai daquele que pensasse o oposto!

Os integrantes da Shindo aterrorizavam os moradores da Colônia e manipulavam informações, sobretudo utilizando fotos-montagens e falsas manchetes de jornal para demonstrar que o Grande Império Nipônico havia triunfado. Alguns esclarecidos desmentiam tamanho absurdo, mas era preciso coragem pra dizer que os “Súditos do Imperador” estavam distorcendo os fatos. Vale lembrar que até então, o Japão nunca havia perdido um conflito beligerante, os meios de comunicação eram precários e as notícias sobre as batalhas vinham dos veículos “adversários” escritos e falados numa língua no qual a maioria dos colonos não dominava. Difícil foi saber em quem acreditar. Diante de tantas humilhações aqui vivenciadas, aceitar a derrota não era mesmo uma tarefa fácil.

Essa história deve ser conhecida e melhor divulgada. Aconselho aqueles que assistirem ao filme ou os que preferirem ler a obra, se aprofundar mais nesse tema. O braço armado da Shindo Renmei (Tokkotai) saía na calada da noite vestido de amarelo em busca de matar os "traidores" que propagavam a rendição japonesa. Em 1946 a organização foi desmembrada, com seus principais líderes presos ou banidos do Brasil. Os números que envolvem esse episódio são: 23 mortes encomendadas, 147 feridos, 120 mil associados ao grupo e 600 indiciados no processo de condenação dos integrantes da Shindo. Eis o saldo da intolerância!

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