quinta-feira, novembro 01, 2012

Que Coisa!


Consumidores esperando a abertura do Shopping Rio Mar

Se tem algo que me impressiona no Capitalismo, é a capacidade de colocar tudo a venda. Quando digo tudo, não estou exagerando. Com dinheiro podemos comprar e vender desde mão-de-obra barata até favores sexuais. O ser humano também recebe sua etiqueta, estampando o quanto custa. E o pior? Não sabe o preço que paga para ter um preço. Não sabe o quanto vale. Viram o caso da jovem catarinense que leiloou sua virgindade?

Pior que saber sobre uma jovem que comete tamanha loucura, é ver diversas pessoas apoiarem essa iniciativa com comentários do tipo: “muitas dão de graça, ela fez certo em vender a sua e descolar uma boa grana”. Então quer dizer que o mais importante é “descolar uma boa grana”?  Com o perdão da palavra, se as coisas continuarem assim, logo mais as virgens vão assumir todo o estigma das putas atuais.

O apelo consumista tem o poder de bestializar as pessoas. Nesta terça, aqui em Recife, aconteceu a inauguração do Shopping Rio Mar. Um projeto audacioso (dizem que é o maior da América do Sul), para atender as necessidades de consumo da nova classe média brasileira. Lá estão lojas tidas como populares, tais como Casas Bahia, Americanas, C&A, Insinuante, Renner e EletroShopping.  Vejam como foi a inauguração:


Viram isso? O povo ensandecido pisoteia os seus patrícios só pra conseguir um bom desconto. Loucura! E não pense você que isso só acontece no Brasil, que é coisa de gente má educada, sintoma de pobreza e blá, blá,blá... em nações como Inglaterra e Alemanha, só para citar duas potencias europeias, assim como os Estados Unidos, ocorrem fatos semelhantes. É de praxe no Velho Mundo, lojas anunciarem produtos pela metade do preço para todo aquele que comparecer pelado ou em trajes íntimos. E a população, “educada, esclarecida e com poder aquisitivo elevado”, comparece.

Não. Não é questão de ser de primeiro, segundo, terceiro, quarto ou quinto mundo. O sistema capitalista consegue transformar seres em coisas. Certo estava Drummond ao escrever em seu poema intitulado “Eu Etiqueta”: “Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é Coisa. Eu sou a Coisa, coisamente.” É triste, mas é a realidade disso que uns chamam progresso, outros preferem usar o termo: desenvolvimento.

9 comentários:

  1. em poucas palavras quero registrar meu comentário.
    O CONSUMIR É MUITO BOM.
    ISSO É VERDADE PARA TODOS OS SERES HUMANOS.

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  2. Bom no sentido de satisfazer? Dá prazer? Pois bem, tendo essas perguntas uma resposta afirmativa: "Sim, consumir é prazeroso". A minha outra pergunta é? Até que ponto chegamos para atingir determinado bem-estar?

    No vídeo vemos pessoas se pisoteando para atenderem seus anseios...e nisso não há nada de bom.

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  3. imagina se alguma livraria fizesse promoções como as feitas por estas lojas do vídeo, vc acha que os leitores se comportariam diferente???? (só pra ilustrar, é fato que se comportariam diferente. no entanto estariam muito mais próximo desse comportamento caótico do que do comportamento "coerente" para um leitor.)
    obs: as pessoas são livres, o que não é coerente pra mim pode o ser para outra pessoa. se eu não quero ser pisado ou pisar alguém fico em casa, no entanto não posso condenar as pessoas que se sujeitaram a esse papel. afinal de contas eles estão lá de livre e espontânea vontade. é simples assim, vc deveria saber disso. (cuidado com a regulação da vida alheia, retome as leituras dos textos anarquista. #ficaadica)

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    1. a discussão aqui não é de classe. Pouco importa se uma livraria ou as casas bahia estão fazendo promoção, vamos analisar o que esse anseio desesperado pelo consumo pode nos elucidar sobre o sistema que vivemos: consumir é uma forma de "existir", de ser visto nessa sociedade... é o que nos torna parte do sistema ou não? A individualidade foi pro brejo! Somos nada mais que consumidores.

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  4. Aí teríamos que mergulhar fundo no conceito filosófico da Liberdade. Seriam libertos aqueles que são doutrinados a obedecer os estímulos das "ficções sociais"?
    Pra vc, e até para mim fica fácil confabularmos a respeito dessa liberdade...Em momento algum desejo a regulação, mas sim a Educação...a dica que eu te dou é ler Elisé Reclus, "Anarquia pela Educação".

    Li o Banqueiro Anarquista, de Pessoa, mas não concordei muito com aquela definição de tirania. Tem lá seu fundamento, pois acredito naquilo que Foucaut denomina MicroFísica do Poder, mas acho incoerência negar as diferenças "naturais" que fazem uns ter mais esclarecimento e lucidez em determinada área do conhecimento não auxiliarem aqueles que estão com uma visão, digamos que nebulosa, sobretudo sobre a sua condição de miséria e embrutecimento...Obviamente esse "auxílio" ocorre de maneira não-autoritária, através de argumentos e não de imposições. E temos que saber respeitar a liberdade alheia de não aceitar tal argumentação e continuar seguindo o curso de sua vida da maneira que está, achem os libertários alienação ou não, é um direito natural de todo e qualquer ser humano.

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  5. "Obviamente esse "auxílio" ocorre de maneira não-autoritária, através de argumentos e não de imposições"
    na realidade os defensores desse argumento sabem que isso não tem implicação na pratica. isso serve apenas de pretexto para exercermos nossa tirania. o bem comum é desculpa para fazermos valer nossa vontade. nós, os mais "esclarecidos", é que sabemos o que é melhor para eles, os menos "esclarecidos".

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    1. Infelizmente tem quem use isso sim de maneira tirânica, pois não saca que a educação é um aprendizado mútuo..."os mais esclarecidos" em uma determinada questão são os "menos esclarecidos" em outras...essa é a beleza da educação, quando se tem essa aprendizagem bilateral...Acredito que toda ideologia deve ser propagada, e da propaganda, surge a doutrinação. o que você faria se visse que um garotinho que ainda não aprendeu a contar, comprasse umas guloseimas na padaria e sempre recebesse o troco errado. O que vc, que sabe contar e viu aquela criança q mal sabe contar ser lesada, iria fazer? Ia dizer q ele ta pegando o troco errado pq quer? Que ele deveria não comprar suas guloseimas? É uma ilustração, talvez boba, porém que se aplica ao debate. Sei que a fronteira da tirania é tênue, mas não devemos ser extremistas ao ponto de achar que toda doutrina é um processo tirânico.

      Mas é isso aew Guego e Carol, o debate ta bom demais!!!

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