domingo, dezembro 02, 2012

Uma Provocação Necessária


A frase e a imagem acima são uma provocação. Eu mesmo estou me provocando. Ocorreram algumas situações essa semana que me deixaram intrigados e me fizeram questionar a cerca de nossa postura, como cristãos, em relação ao Reino de Deus. E nessa manhã tive mais uma, e esta da parte do SENHOR. Fui a Congregação Batista em minha comunidade, e lá fui confrontado com o seguinte texto:

“Ouçam agora vocês, ricos! Chorem e lamentem-se, tendo em vista a miséria que lhes sobrevirá. A riqueza de vocês apodreceu, e as traças corroeram as suas roupas. O ouro e a prata de vocês enferrujaram, e a ferrugem deles testemunhará contra vocês e como fogo lhes devorará a carne. Vocês acumularam bens nestes últimos dias. Vejam, o salário dos trabalhadores que ceifaram os seus campos, e que por vocês foi retido com fraude, está clamando contra vocês. O lamento dos ceifeiros chegou aos ouvidos do Senhor dos Exércitos. Vocês viveram luxuosamente na terra, desfrutando prazeres, e fartaram-se de comida em dia de abate. Vocês têm condenado e matado o justo, sem que ele ofereça resistência.”
                             Tiago 5:1-6

Um amigo postou em seu Facebook um comentário defendendo o cantor gospel Thalles Roberto, criticado por causa de uma promoção, onde uma rádio (ao que me parece) bancaria um passeio de limousine com o artista e alguns fãs. Eu comentei em seguida, e disse que tal posicionamento é anti-bíblico por se tratar de ostentação (mesmo a limousine não sendo dele). O Apóstolo João é bem claro que isso é pecado. Cobiçar bem materiais, e correr loucamente para acumular e em seguida se ensoberbecer por causa deles, mostrando as pessoas as suas posses é - nas palavras de João - amar o mundo. E quem ama o mundo, segundo o mesmo, não tem o amor do Pai.

Só que após o meu, outros comentários se seguiram, dizendo que Thalles tinha mais é que andar de limousine mesmo, que ele trabalhou pra isso e blá blá blá. E mais: todos nós que trabalhamos e estudamos devemos agir da mesma forma. Hã? Como é? Então é para isso que eu trabalho? Esse é o proveito que eu vou tirar de meus estudos? Almejo o luxo, as benesses desse mundo? Tem algo de errado nesse discurso. Mais errado ainda essa prática. Não quero vos pregar o Evangelho da Miséria, todavia me recuso a aceitar esse procedimento condenável desde a época do Antigo Testamento e que Jesus intensificou a reprovação a tal postura.

Vemos profetas como Amós, e livros sapientes como Provérbios e Eclesiastes, associarem os ricos a pessoas injustas. E no ministério de Jesus, ele falou por mais de uma ocasião da dificuldade que um homem de posses tem em “entrar no Reino dos Céus”. Numa sociedade como a nossa, onde se tem recursos suficientes para todos e mesmo assim, pessoas passam fome debaixo do nosso nariz, a pessoa que afirma ser  cristão dizer que não há nada demais nessa promoção estúpida de levar pessoas a passear numa limousine é no mínimo falta de esclarecimento a cerca do evangelho.

O Livro de Lucas, capítulo 12, contem uma parábola a respeito de um homem que tendo uma safra abundante, derrubou seus celeiros e construiu outros maiores. Depois de armazenar tudo se regozijou por ter comida suficiente por anos. Mas Deus o contestou dizendo que aquela noite ele iria morrer, e seus produtos ficariam com quem?  Acumular é errado não porque revela que nossa prioridade são os bens, mas também por privar outras pessoas de desfrutarem do bem comum. Qual o preço do luxo que ostento? Quantas pessoas morrem ou vivem de maneira sub-humana para bancar nossos anseios consumistas? Por que não nos contentamos com uma vida mais simples, porém que todos tenham acesso as necessidades básicas? Por que queremos conciliar nossa ganância com a religião?  

Como disse, também estou provocando a mim. Não sou profeta da miséria, mas me incomodo bastante ao saber que não faço da minha vocação um instrumento para abençoar outras pessoas. Sempre me pego pensando em salário. Travo essa luta comigo mesmo e espero que Cristo me ajude a vencer minha ganância. Há alguns dias, comprei um copo de suco para almoçar, e quando ia passando uma adolescente moradora de rua me chamou, ignorei-a, só que ela insistiu até que eu me virasse. Pediu-me um gole do meu suco. Eu sem nem olhar direito para ela menti dizendo que não era meu. Tive uma refeição atribulada, pois não pensava em outra coisa que não fosse aquela menina.

Finalizo essa necessária provocação com um relato histórico em que um Tupinambá questiona um francês a respeito de todo o trabalho que ele e os demais europeus fazem para extrair o pau-brasil. O francês diz que aquela madeira não será queimada, como supunha o velho índio, mas seria vendida e geraria riquezas. O Tupinambá ainda encasquetado com aquilo pergunta: “E quando vocês morrem? Pra quem fica?” A resposta que obteve é de que os filhos herdariam todo o bem deixado por seus pais. Aí vem o arremate do nativo:

“Agora vejo que vós sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois de nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.”

Se este velho indígena conseguiu captar a vontade de Deus e não se convenceu dos argumentos daquele huguenote, então a minha oração é de que a Igreja desperte do individualismo e retorne ao coletivismo presente no capítulo 2 do Livro de Atos.

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