quinta-feira, abril 11, 2013

Deus Morreu?



“Não ouviram falar daquele homem louco que em plena manhã acendeu uma lanterna e correu ao mercado, e pôs-se a gritar incessantemente: Procuro Deus! Procuro Deus!”? – E como lá se encontrassem muitos daqueles que não criam em Deus, ele despertou com isso uma grande gargalhada. Então ele está perdido? Perguntou um deles. Ele se perdeu como uma criança? Disse um outro. Está se escondendo? Ele tem medo de nós? Embarcou num navio? Emigrou? – gritavam e riam uns para os outros. O homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar. “Para onde foi Deus?”, gritou ele, “já lhes direi! Nós os matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos!”

Nietzsche escreveu esse aforismo (o de número 125 da obra Gaia Ciência) e foi execrado por muitos, por ter proferido a sentença de que Deus havia morrido. Todavia, o filósofo não reclamou o status quo de “assassino da divindade”. Nietzsche acusa a dialética socrática, que não enxerga nenhuma pureza além da racionalidade. Acusa também a ciência moderna, com sua sede em emancipar a humanidade. Por fim a institucionalização da fé, que aprisiona Deus, fazendo com que as igrejas se tornem mausoléus, tal como diz uma canção do poeta e violeiro João Alexandre: “A morte se esconde atrás dos templos.”

Dentre todos os acusados, há aqueles que confessam o crime sem remorso algum, chegam a vangloriar-se de tal feito, ao contrário de outros, que mesmo com “resquícios de pólvora” nas mãos, negam ter participação nesse homicídio. São hipócritas! Esses, os que negam, na verdade são os que mataram com maior requinte de crueldade. Traidores, que falam em nome de Deus, e por trás o apunhalam. E fazem isso sempre que recorrem ao extremismo dogmático. É o extremo a arma que feriu o Divino.

Não importa se é destro ou canhoto. O posicionamento que leva ao discurso e/ou atitudes extremas é uma guilhotina. E como temos visto tais posicionamentos. Atualmente, todos emitem suas opiniões e mesmo sem compreenderem muito bem, se metem a proferir homilias nas quais a discordância gera ódio e uma série de acusações. O intolerante alega intolerância do seu vizinho e ambos desrespeitando-se mutuamente acabam por finalizar mais um debate, apontando a arma para Deus, dando-lhe um “tiro no peito.”

O desequilíbrio entre os homens e a natureza, causada pelo afastamento do emocional e a aproximação da extrema razão (Dionísio separado de Apolo num contexto niilista) é a “causa mortis” que destrói a vida e gera o vazio no qual Dostoievski soube expressar muito bem através de uma de suas personagens do clássico Os Irmãos Karamazov: “Se Deus está morto, então tudo é permitido.” E essa aterradora realidade, na qual predomina o caos, foi uma escolha humana.  Foi tudo feito “de caso pensado.”

Hoje, ainda há quem procure por Deus e acredite que Ele esteja vivo. Como na música do Palavrantiga que diz: “Deus onde estás? Te procuro. Te procuraria no beco ou nessa rua.”  Seus supostos assassinos estão apreensivos. Pois se o Deus que eles “mataram com suas próprias mãos” ainda vive, então a Razão entrará em colapso e passará o cetro para o Paradoxo.Se ouvirá então um som do coro de São Paulo aos coríntios: “Onde está, ó morte, a tua vitória?”

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