quarta-feira, junho 19, 2013

O Que Queremos?


Já escrevi dois textos nesse blog, falando sobre as manifestações que ocorrem em todo o Brasil. O primeiro Para Mudar o País, falo da positividade que existe no ato de protestar. Reafirmo que a luta não é por causa de 20 centavos e utilizo alguns argumentos de Tolstói para defender a não-violência e a desobediência civil. O segundo texto, O Gigante Acordou Mesmo?, não repudia o movimento que ganha as ruas das pequenas e grandes cidades, no entanto, critica alguns pontos do mesmo. Fui mal compreendido, e considero que não foi pelo fato do texto estar mal escrito (não chego a descartar definitivamente essa possibilidade), mas sim pela exaltação de ânimo que tomou conta de uma parcela da sociedade que aderiu o movimento “Vem Pra Rua”.

Repito, não sou contra a atitude de manifestar. E quero muito ver a transformação resultante das manifestações. Porém qual o objetivo claro? Sei que não são por conta dos 20 centavos. Todavia, a pauta dos atos que vem acontecendo está muito ampla. Querem transporte público de qualidade, escolas, hospitais, o fim da corrupção e uma série de coisas, que se não forem elencadas as prioridades, não trará a sustentação para que o País mude, como queremos. A crítica feita aqui não é visando desarticular ou desacreditar o movimento. Não! Minhas palavras tem por meta, a reflexão por uma luta mais focada. Mais eficaz.

Um ponto do texto anterior bastante questionado, foi o fato de ter me referido as urnas. Pensei que estivesse claro que o resultado do que está sendo feito em 2013, deve repercutir no processo eleitoral em 2014. Pois não adianta reclamar dos “caras” hoje para amanhã elegermos os mesmos. Essa foi a ideia. Basta olharmos para a história (e bem recente), para ver que há 30 e a 20 anos atrás, houve gente na rua, gritando, apitando, pintando a cara, cantando Chico e Vandré, e que resultaram em mudanças parciais. Houve revolução? Não! E por que? Porque os que manifestaram, assumiram o poder e usurparam essa condição para lesar o povo. E por falar em povo: Teria ele voz ativa nisso tudo?



Muitos se gabam do movimento ser apartidário, não tenho tanta certeza quanto a isso. Mesmo velada, existe representação política. Tudo começou por causa do Movimento Passe Livre, a UNE também entrou no meio, e grande parte dessa galera tem partido sim. O povo não está na rua, está uma fração dele. Não estão os moradores das favelas, palafitas e até os que dormem nas ruas. Não estão os índios (ou estes não são brasileiros?). Não estão os trabalhadores, tais como meu pai e minha mãe, e nem o carinha do ônibus hoje que dizia: “Porque só fazem esses protestos na hora que eu quero voltar pra casa? Faz de manhã cedo, assim ninguém trabalha e o patrão se lasca.” Esse não é um discurso isolado, ando de buzão todo dia e escuto coisas similares.

Convoquem a classe trabalhadora, convoquem os marginalizados. Essa galerinha que protesta e tira foto com seu Ipad, para colocar no Facebook, está atrás ou de projeção política, ou de convencimento de que lutam em prol de uma causa nobre. Um anseio inerente da alma humana. O que vemos no Brasil, é importante, é louvável, mas passível de críticas por ter muitos erros de condução. Já se vão quantos dias de protesto? Quantos lugares? E qual a grande (eu disse GRANDE) mudança até aqui?

Falavam de “primavera brasileira”, mas esquecem de que lá no mundo árabe, o movimento é bem objetivo e articulado (falo da ideologia e não da execução). No Egito, só para exemplificar, a força policial aderiu e não baixou o sarrafo na turma. Aqui o policial nem sabe que é cidadão também! Os manifestantes desconhecem a própria realidade no país que vivem. Muitos que me convocam hoje para as ruas, estavam chamando o Programa Recomeço de Bolsa Crack, mês passado. Teriam estas mesmas pessoas evoluído na sua criticidade e leitura do contexto político e social tupiniquim? Pouco provável.

A transformação deve ocorrer internamente, antes de tudo. Uma frase de Tolstói diz: “Cada um pensa em mudar a humanidade, todavia não querem mudar a si mesmos.” Num país onde o jetinho brasileiro, todo dia comete atos desonestos, gritar contra a corrupção política é um tanto quanto contraditório. Pois bem, essas são minhas palavras. Sou a favor das manifestações. Sou contra a generalidade da pauta. Respeito os que estão na rua. Quero que respeitem da mesma forma o meu posicionamento. Não vou aderir enquanto não ver definição em tanta marcha. Isso não faz de mim um reacionário. Com a consciência limpa eu encerro esse texto com um trecho da música que escutava enquanto redigia estas últimas palavras. Toca Raul: “Mas é que agora pra fazer sucesso, pra vender disco de protesto todo mundo tem que reclamar. Eu vou tirar meu pé da estrada e vou entrar também nessa jogada. E vamos ver agora quem é que vai guentar.”

4 comentários:

  1. hoje irei fazer uma observação bem simples, a definição de uma pauta se faz debatendo ou ela simplesmente se manifesta? vc não aceita o fato da pauta não está definida, logo isso justifica sua ausência no ato. ainda bem q há bastante gente pensando diferente né? se a maioria estivesse aguardando a definição de uma pauta não estaria acontecendo nada. a construção de uma pauta é bastante importante, no entanto, o fato de ainda não se ter uma definição, não implica q não devamos ir pras ruas. por fim, fico satisfeito por ter debatido essas ideias aqui. agradeço a oportunidade q vc nos dá neste seu canal de comunicação e certamente nos encontraremos na rua em algum momento. grande abraço!!!

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  2. Claro que é ótimo pessoas pensarem diferente...Eu respeito muito isso, e não me preocupo nem um pouco de destoar, às vezes, do grito da maioria. Sua observação "simples e breve" não rebate os pontos elencados no texto, mas tudo bem...O vídeo lançado hj sobre as 5 Causas, demonstra que meu argumento é sólido. As causas não foram organizadas durante a marcha. De início, é até aceitável a falta de planejamento, porém, no momento em que as manifestações tornam-se constantes, uma hora deve aparecer quem norteie os protestos...Fiquei feliz em ver que agora a coisa está tomando forma.

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  3. ahhh...só pra mostrar que meus argumentos não são isolados...

    http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/geracao-64-elogia-manifestacao-mas-aponta-falta-de-objetivo?page=2

    http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1281755

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  4. Sinceramente não vi protesto nenhum... Vi uma passeata, uma caminhada e até acho que se colocasse um axé ou um pagode, não teria diferença do antigo recifolia. Algo que não incomoda o governo, é realmente um protesto? Vejo muitos falando que foi uma grande vitoria pelo quantidade de gente na rua, mas tem festividades que coloca bem mais. Ganhou-se o que? (sei que serei criticado pelo que estou escrevendo, mas sinceramente não ligo). Sei que boa parte é por conta da esperteza do DUDU que além de tá lendo quer ser presidente. Mas realmente me preocupo com os rumos que as coisas possam tomar, dizer que é apartidário o movimento é uma coisa, mas bater ou jogar bomba em quem ta com bandeira é outra, (bandeira que as vezes era de sindicatos de professores). Alguns chegam a falar que o movimento é bem anarquista, mas ideias de direita e nacionalista estão rolando solta, pergunto se as pessoas que falam que o anarquismo está a frente realmente leram algo (não falo de vc amigo, li os textos e concordo com os escritos) Até acho que uma das formas mais eficientes de lutar contra a passagem (foco inicial em SP) seria convencer toda a população a passar dois dias sem usar transporte "publico" o que daria um rombo para os empresários. Poderiam colocar links e mais links demonstrando o interesse da direita nos "protestos" (o qual em acho muito vândalo para ir), mas fico por aqui.

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