A
Juventude brasileira parece estar disposta a lutar, não apenas por
20 centavos, mas pela qualidade dos transportes públicos e a redução
das tarifas. O transporte é apenas mais um elemento deficiente de um
Estado corrupto e inoperante. As reivindicações são de suma
importância para os que desejam um país mais justo e mais viável
para as classes de baixa renda, que arcam com as despesas do porte de
uma Copa das Confederações, todavia, ao solicitarem os serviços de
saúde, educação e moradia (direitos básicos de todo ser humano)
frustram-se por não terem um atendimento satisfatório.
Na
próxima Quinta-Feira, dia 20/06, várias capitais verão
manifestações estudantis, exigindo melhorias nos serviços acima
citados. Fica em mim, o receio de ver imagens tão lamentáveis como
as de São Paulo. Sinceramente, não desejo ver mais uma vez aquele
cenário de guerra. Não vou dar apoio a qualquer confronto que seja,
exceto, aquele que se dá no campo das ideias, que começa pelo foro
íntimo. Antes de aderir a qualquer protesto é necessário fazer uma
auto-crítica a respeito de nossa conduta moral diária. Apenas um
homem justo, e que tenha se libertado do egoísmo contido no
“jeitinho brasileiro” de querer obter vantagem de tudo e sobre
todos, pode fazer coro ao brado popular que anseia pela justiça e
pela liberdade dos oprimidos.
Falo
isso, por ver uma gama de pessoas moralmente vis, clamarem por coisas
que elas mesmas não promovem. Muitos deles, sem ideologia e nem
causa, tumultuam os protestos, saindo de casa prontos para a briga. O
pior disso é que ao invés de agregarem a população, acabam por
repeli-la. Afinal, violência não é a arma mais eficaz para
combatermos esse Leviatã, reconhecido por nós como Governo. Quem
poderá destruí-lo? Os coquetéis molotov? Os paus e as pedras?
Cacos de vidro? Punhos de aço? Quais armas seriam as mais eficientes
para golpear fatalmente o Estado opressor?
Há dias
atrás, escrevi um trabalho acadêmico sobre as ideias libertárias
do escritor russo, Liev Tolstói. Este grande apóstolo da anarquia e
do pacifismo diz o seguinte: “Para
livrar-se do governo não é necessário lutar contra eles pelas
formas exteriores (insignificantes até o ridículo diante dos meios
de que dispõem os governos) é preciso unicamente não participar em
nada, basta não sustentá-los e então cairão aniquilados. E para
não participar em nada dos governos nem sustentá-los é preciso
está livres da fragilidade que arrasta os homens aos laços do
governo que lhes fazem seus escravos ou seus cúmplices.”
Pois
bem,
achamos
uma arma: a Desobediência Civil. Não há melhor forma de minar o
poder dos governos. Isso não funciona apenas no campo teórico.
Ghandi e Luther King, cada um a sua maneira, através da
não-violência e da insubmissão à Leis injustas, conseguiram
atingir suas metas. O primeiro libertou a Índia do domínio
(político) britânico. Já o segundo, dissolveu a segregação
racial, legalmente reconhecida, que havia nos Estados Unidos. Nessa
luta eu acredito. Esse é o método mais oportuno para se chegar ao
ideal de uma sociedade mais digna.
Vamos
protestar, porém sem perder a Razão. A violência não é capaz de
nos fazer alcançar um objetivo tão puro. Todo governo tem a força
bruta como base para sua sustentação. Há anos eles possuem o
monopólio da violência, são hábeis demais para sufocar qualquer
que seja a investida popular que se utilizar do meio que eles dominam
com destreza. Nesse dia 20, no 21,22,23 e adiante, que possamos
através de uma consciência pura, libertar a nossa sociedade de um
sistema tão desigual, desleal e imoral. Se preparem para a guerra:
Não levem armas. Levem apenas o seu desejo de parar o Brasil, até
que este mude pra melhor. Finalizo com mais um trecho de Tolstói que
nos enche de esperança:
“Que
importância pode ser atribuída à recusa de algumas dúzias de
loucos, como os chamam, a prestar juramento ao governo,a pagar
impostos, a participar da justiça do Estado e a servir o exército?
Essa gente é punida, enviada à prisão perpétua, e a vida continua
seu curso, como antes. Entretanto, são esses fatos, mais que
qualquer outro, que comprometem o poder e preparam a libertação dos
homens. São as abelhas isoladas, primeiro desprendidas do enxame,
que volteiam ao seu redor, esperando o que não pode tardar: que todo
o enxame pouco a pouco se desprenda. E os governos sabem disso e
temem esses exemplos mais do que temem todos os socialistas,
comunistas e anarquistas com suas conspirações e suas dinamites.”
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