Página Criada por pessoas que não acreditam que o garoto tenha matado a família.
É duro acreditar que um menino
tenha matado sua família de um modo tão frio e preciso. Mesmo com a perícia
relatando que todos os indícios levam a crer que foi o pequeno Marcelo que fez
tudo sozinho. Parentes e amigos não acreditam nisso. Vejo pessoas não
envolvidas com a história, atônitas com tudo isso e também dispostas a crer que
não foi o guri quem matou os pais. Um fato tão absurdo que me faz enxergar
quantos outros absurdos não presenciamos em nosso cotidiano, e achamos que
todas as coisas estão dentro da normalidade.
É duro acreditar que Carlos
Latuff, um chargista que tem um trabalho que denuncia a truculência policial,
fazendo dele um agente da cultura de paz, poste em seu Facebook que Marcelo deveria
ganhar uma medalha por dar cabo à vida de dois PM’s. Um profissional como ele,
atuando há mais de duas décadas na promoção dos Direitos Humanos fala uma
bobagem dessas e ainda não se ratificou. Ao ser questionado por sua colocação
infeliz, disse ser fiel as suas convicções. Daí eu me pergunto: Pode um cara
desses estar certo de que sua fala não desconstrói a sua luta?
É duro acreditar que a
violência sempre é respaldada, até mesmo por aqueles que são vítimas dela. Não
adianta promover a truculência contra quem detém o monopólio da força bruta, já
dizia Liev Tolstói. O Estado é pós-graduado em meter porrada. Está preparado
para isso. Não é incitando mais violência que a revolução nascerá diante de
nossos olhos deslumbrados com um novo alvorecer da Justiça.
É duro acreditar que homens
como Gandhi e Luther King são tão mencionados e pouco imitados. Todos acham
lindas as suas trajetórias de vida, todavia, falam que a Não Resistência Violenta
é utópica e não leva a lugar nenhum. Puxa! Será que não é a hora de tentarmos
um caminho diferente? Há quanto séculos estamos vivendo o “olho por olho”? Quais
resultados obtivemos, além de mais mortes, mais choro, mais tristeza? Creio que
chegou o momento de viver numa cultura de paz. Querer a paz vai muito além de
estar vestido de branco após uma tragédia ter assolado alguém do seu ciclo de convivência. Ou
é isso, ou então viveremos na “cegueira branca” da obra de Saramago.
É duro acreditar que esse meu
texto será rechaçado por pessoas instruídas. Muitas delas intituladas cristãs,
que não compreendem, ou não querem compreender que amar os inimigos e virar a
outra face não são hipérboles. Jesus disse exatamente o que queria dizer: não
ajam com violência, pois não foi para isso que vocês vieram ao mundo. É duro
conviver com a agressividade tão natural. Dói ver uma família tragada pela
nossa “hostilidade de cada dia”. Vivemos num tempo em que violência é esporte,
é arte, é lazer, é tudo, menos o que deveria ser: uma infeliz memória de uma
sociedade doente. Por fim, creio que nós fabricamos psicopatas em produção industrial.
Muito duro!!! Admiro o trabalho do Latuff e me decepcionei com o seu discurso de ódio...como diz o texto: ele tem que se ratificar, pois é a sua luta que fica maculada com essa frase infeliz...
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