quinta-feira, agosto 08, 2013

É Duro Acreditar

Página Criada por pessoas que não acreditam que o garoto tenha matado a família.

É duro acreditar que um menino tenha matado sua família de um modo tão frio e preciso. Mesmo com a perícia relatando que todos os indícios levam a crer que foi o pequeno Marcelo que fez tudo sozinho. Parentes e amigos não acreditam nisso. Vejo pessoas não envolvidas com a história, atônitas com tudo isso e também dispostas a crer que não foi o guri quem matou os pais. Um fato tão absurdo que me faz enxergar quantos outros absurdos não presenciamos em nosso cotidiano, e achamos que todas as coisas estão dentro da normalidade.

É duro acreditar que Carlos Latuff, um chargista que tem um trabalho que denuncia a truculência policial, fazendo dele um agente da cultura de paz, poste em seu Facebook que Marcelo deveria ganhar uma medalha por dar cabo à vida de dois PM’s. Um profissional como ele, atuando há mais de duas décadas na promoção dos Direitos Humanos fala uma bobagem dessas e ainda não se ratificou. Ao ser questionado por sua colocação infeliz, disse ser fiel as suas convicções. Daí eu me pergunto: Pode um cara desses estar certo de que sua fala não desconstrói a sua luta?

É duro acreditar que a violência sempre é respaldada, até mesmo por aqueles que são vítimas dela. Não adianta promover a truculência contra quem detém o monopólio da força bruta, já dizia Liev Tolstói. O Estado é pós-graduado em meter porrada. Está preparado para isso. Não é incitando mais violência que a revolução nascerá diante de nossos olhos deslumbrados com um novo alvorecer da Justiça.

É duro acreditar que homens como Gandhi e Luther King são tão mencionados e pouco imitados. Todos acham lindas as suas trajetórias de vida, todavia, falam que a Não Resistência Violenta é utópica e não leva a lugar nenhum. Puxa! Será que não é a hora de tentarmos um caminho diferente? Há quanto séculos estamos vivendo o “olho por olho”? Quais resultados obtivemos, além de mais mortes, mais choro, mais tristeza? Creio que chegou o momento de viver numa cultura de paz. Querer a paz vai muito além de estar vestido de branco após uma tragédia ter assolado alguém do seu ciclo de convivência. Ou é isso, ou então viveremos na “cegueira branca” da obra de Saramago.

É duro acreditar que esse meu texto será rechaçado por pessoas instruídas. Muitas delas intituladas cristãs, que não compreendem, ou não querem compreender que amar os inimigos e virar a outra face não são hipérboles. Jesus disse exatamente o que queria dizer: não ajam com violência, pois não foi para isso que vocês vieram ao mundo. É duro conviver com a agressividade tão natural. Dói ver uma família tragada pela nossa “hostilidade de cada dia”. Vivemos num tempo em que violência é esporte, é arte, é lazer, é tudo, menos o que deveria ser: uma infeliz memória de uma sociedade doente. Por fim, creio que nós fabricamos psicopatas  em produção industrial.

Um comentário:

  1. Muito duro!!! Admiro o trabalho do Latuff e me decepcionei com o seu discurso de ódio...como diz o texto: ele tem que se ratificar, pois é a sua luta que fica maculada com essa frase infeliz...

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