Ontem foi o aniversário de
Cleide, irmã querida da comunidade cristã na qual eu participo há dez anos. Ela,
junto com seu esposo, Fred, que é o novo pastor, está conosco faz apenas dois
meses, todavia, já os amamos e os consideramos muito importantes para nós. Só
que eles não são os personagens principais desse texto. Quero vos falar da
atitude de uma senhora, e eu vergonhosamente me desculpo por não saber o seu
nome. Minha postura lamentável ficará em segundo plano, diante da honradez com que
essa mulher procedeu, me ensinando valores eternos apenas com um singelo gesto
de sua parte.
Antes de qualquer coisa, gostaria
de descrever como vive esta senhora: Bem... ela é avó de 35 crianças, 19 moram
com ela, junto com alguns filhos. Sua renda fixa é de R$ 150,00 reais e um de
seus netos possui uma síndrome que o deixa paralisado, precisando de cuidados
especiais. Um quadro desolador. Alguns irmãos da igreja foram visitá-la e lhe conceder uma ajuda qualquer que fosse. Viram as condições miseráveis daquela família e a luta
dessa filha de Deus que coloca roupas numa geladeira velha por não ter armário.
Mesmo vivendo, ou melhor, sobrevivendo nestas circunstâncias, ela encara tudo
com um sorriso em seu rosto cansado e sofrido.
Cleide, e nem ninguém, esperava que essa
bendita batesse em sua porta para lhe dar um presente de aniversário. Não
sabemos o que ela deixou de comprar, ou como arrumou tempo para se locomover
até a residência pastoral e ofertar um perfume à aniversariante. Obviamente que
não era a mais cara e a melhor fragrância. Era uma colônia de alfazema. Simplório
demais, e paradoxalmente mui belo e valiosíssimo.
Como uma pessoa que tão pouco possui pode
dar algo para alguém? Hoje está mais que provado que é nítido e intrínseco do
Cristianismo a partilha. Fiquei profundamente tocado com a atitude dessa “Anônima do Reino”. Lembrei da Igreja Primitiva, que partilhava tudo o que
tinha ao ponto de não haver necessitados no meio deles. Lembrei da viúva que
ofertou sua única moeda no templo. Também
recordei Jesus, que multiplicou o pão, pediu pra Zaqueu repartir o que tinha e refez o mesmo pedido ao jovem rico. Lembrei-me, enfim, de muita gente que já se foi e trabalhou em
favor dos pobres.
Num cenário tão exclusivista e
materialista, esse tipo de ação precisa ser difundida. De todas as pregações e
de tantos estudos que fiz esse ano, saber desse ato me empolga.
Concomitantemente me arrasa, pois o que eu tenho dividido? No máximo, dou umas
moedas que estão em meu bolso. E faço isso apenas pra me livrar delas, e não porque fui compelido a doar. Apelo
para a Misericórdia de Deus, para que o "meu" venha depois do "nosso".Vamos viver isso? Será que a gente consegue?
Está escrito em Atos que dar é melhor que receber. Pois é, o Evangelho precisa voltar as suas raízes. Um dos lemas da reforma foi: Igreja reformada, sempre reformando. Porque paramos então? Porque estamos acomodados com o materialismo que se mostra nos sermões dominicais, nas roupas usadas pelos fiéis e nos ornamentos dos templos? Obrigado pela lição minha irmã. Quero ser como tu és. Pois a senhora me mostrou que há remanescentes na Igreja que querem vivenciar o Evangelho puro e simples. Estou feliz por isso. Soli Deo Gloria.
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