Louco, doido, doente mental? Que nada, um
possível revolucionário da condição psicológica humana. Em que momento ele
pirou, perdeu o senso, como diria o outro, ou “tem problemas”, como diriam os
demais? Simplesmente ri de si, de todos... quem sabe? Nem ele, mas ri sem parar, das desgraças, da
vida, ninguém sabe...
Ao lado dessa cena, aparentemente
alvissareira, outras acontecem de forma drástica: como uma mulher surgindo do
lixo e se quedando ao lado de uma barraca, se confundindo com a vida dos
gabirus. Em outro canto, em uma praça: um homem de rua, depois de abandonar a
beira do canal, se instala no novo ambiente, sobrepondo roupas sobre o corpo
para a caminhada matinal em busca da comida da sobrevivência.
Contrariando os deuses ou o Deus, um
homem simples, do Povo, não da classe Média, ou B, ou C, ou C e meia... porque
não existem desses, muito menos sorrindo, estão enclausurados e devidamente
sisudos e drogados, obedecendo os cânones burgueses.
Iniciou aonde esse deboche? Em que
circunstâncias, com que traumas, será que chegou ao paraíso do sorriso fugindo
da miséria da vida social? Simplesmente
rir, despudoradamente, sem receios, sem rodeios, sem soslaios, num agnosticismo
desenfreado, contrariando os deuses, ou num realismo contundente, contrariando
a humanidade.
Ao lado de um restaurante fechado, com
Vigias dispersos, distraídos, porque quem ri não furta, não rouba, pode até
pegar de volta o sossego e o pão que lhe roubaram, como disse o Poeta, mas não
amedronta.
Contrariando a normalidade, os ditames
sociais, eis o sorriso ambulante, desafiando a todos, a vida, a sociedade, em
mais um quadro turvo da aquarela do meu bairro.
*Afonso Ivo de Lira é Professor Universitário.
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