quinta-feira, janeiro 26, 2012

O Sorriso, A Paisagem Desumana e o Guarda Roupa Ambulante.


           Por Afonso Ivo de Lira*          

Louco, doido, doente mental? Que nada, um possível revolucionário da condição psicológica humana. Em que momento ele pirou, perdeu o senso, como diria o outro, ou “tem problemas”, como diriam os demais? Simplesmente ri de si, de todos... quem sabe?  Nem ele, mas ri sem parar, das desgraças, da vida, ninguém sabe...

Ao lado dessa cena, aparentemente alvissareira, outras acontecem de forma drástica: como uma mulher surgindo do lixo e se quedando ao lado de uma barraca, se confundindo com a vida dos gabirus. Em outro canto, em uma praça: um homem de rua, depois de abandonar a beira do canal, se instala no novo ambiente, sobrepondo roupas sobre o corpo para a caminhada matinal em busca da comida da sobrevivência.

Contrariando os deuses ou o Deus, um homem simples, do Povo, não da classe Média, ou B, ou C, ou C e meia... porque não existem desses, muito menos sorrindo, estão enclausurados e devidamente sisudos e drogados, obedecendo os cânones burgueses.

Iniciou aonde esse deboche? Em que circunstâncias, com que traumas, será que chegou ao paraíso do sorriso fugindo da miséria da vida social?  Simplesmente rir, despudoradamente, sem receios, sem rodeios, sem soslaios, num agnosticismo desenfreado, contrariando os deuses, ou num realismo contundente, contrariando a humanidade.

 Ao lado de um restaurante fechado, com Vigias dispersos, distraídos, porque quem ri não furta, não rouba, pode até pegar de volta o sossego e o pão que lhe roubaram, como disse o Poeta, mas não amedronta.

Contrariando a normalidade, os ditames sociais, eis o sorriso ambulante, desafiando a todos, a vida, a sociedade, em mais um quadro turvo da aquarela do meu bairro.

                                                  *Afonso Ivo de Lira é Professor Universitário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário