terça-feira, novembro 20, 2012

Um Injustiçado Almirante Negro


João Cândido, já idoso e esquecido pela História.

Glória a todas as lutas inglórias, que através da nossa história não esquecemos jamais.” Assim canta Elis, com a sua voz inconfundível, referindo-se a João Cândido, como sendo o Mestre-Sala dos Mares. A letra é uma parceria entre Aldir Blanc e João Bosco. Mas como diz a canção: Será que não esquecemos os heróis das lutas inglórias? Quando falamos no “Almirante Negro” e de outros envolvidos na denominada Revolta da Chibata, não se trata apenas de esquecimento, mas sim, descaso do poder público.

A Revolta aconteceu entre os dias 22 e 27 de Novembro, no ano de 1910, na Baía da Guanabara, época em que o Rio de Janeiro ainda era a capital federal. O motim dos marinheiros do encouraçado Minas Gerais, liderados por João Cândido Felisberto, filho de ex-escravos, gaúcho, a serviço da Marinha do Brasil desde os seus 14 anos de idade, visava a abolição dos castigos físicos e por uma melhor comida, pois era comum oferecer alimentos estragados aos “marujos”. Os abusos dos oficiais, brancos e racistas em sua maioria, eram constantes. Qualquer motivo era pretexto pra “descer a chibata nas costas de um negro”.

Indignados com tal situação, a tripulação do Minas gerais, tomou o controle da embarcação e apontou os canhões para a “Cidade Maravilhosa”. O recado era bastante claro: Se os maus tratos não parassem, haveria um bombardeio. Tiveram êxito, pois os castigos (resquícios da Escravidão) foram abolidos, mesmo com o atraso de décadas, comparado a países como Espanha, França e EUA. Quanto a anistia dos revoltosos, mesmo tendo sido garantida pelo então presidente Marechal Deodoro da Fonseca, não ocorreu.

As perseguições aos amotinados da Chibata geraram a morte de alguns, prisões de outros e a expulsão de muitos da Marinha. O recentimento ainda é vivo, pois em 2008, os oficiais não quiseram que uma estátua em homenagem a João Cândido ficasse em frente a Escola Naval. E conseguiram! O monumento está na Praça XV, centro do Rio de Janeiro, virado para o mar. Nessa mesma praça, trabalhou como estivador, descarregando peixes. Viveu em absoluta situação de pobreza, casou-se 3 vezes e foi pai de 11 filhos. Morreu discriminado por uma possível homossexualidade, e esquecido. Aos 89 anos de idade, num dia 6 de Dezembro de 1969, um câncer ceifou a vida do “Almirante Negro”.

Em 2008, uma lei da então Senadora Marina Silva, que previa a anistia póstuma com indenização as famílias dos participantes da Revolta da Chibata foi vetada pela presidência. Alegando um “buraco” para os cofres públicos, apenas a anistia foi concedida. Mas só que apenas duas solicitações indenizatória foram feitas. Pois boa parte dos familiares não tem conhecimento do envolvimento de seus anscendentes na revolta. Essas duas famílias, uma delas a de João Cândido, são pobres de ascendência africana. Enquanto que os familiares daqueles que lutaram contra a Ditadura de 1964, muitos de classe média e brancos, receberam as devidas reparações financeiras. Justo?

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