João Cândido, já idoso e esquecido pela História.
“Glória
a todas as lutas inglórias, que através da nossa história não
esquecemos jamais.”
Assim canta Elis, com a sua voz inconfundível, referindo-se a João
Cândido, como sendo o Mestre-Sala dos Mares. A letra é uma parceria
entre Aldir Blanc e João Bosco. Mas como diz a canção: Será que
não esquecemos os heróis das lutas inglórias? Quando falamos no
“Almirante Negro” e de outros envolvidos na denominada Revolta da
Chibata, não se trata apenas de esquecimento, mas sim, descaso do
poder público.
A
Revolta aconteceu entre os dias 22 e 27 de Novembro, no ano de 1910,
na Baía da Guanabara, época em que o Rio de Janeiro ainda era a
capital federal. O motim dos marinheiros do encouraçado Minas
Gerais, liderados por João Cândido Felisberto, filho de
ex-escravos, gaúcho, a serviço da Marinha do Brasil desde os seus
14 anos de idade, visava a abolição dos castigos físicos e por uma
melhor comida, pois era comum oferecer alimentos estragados aos
“marujos”. Os abusos dos oficiais, brancos e racistas em sua
maioria, eram constantes. Qualquer motivo era pretexto pra “descer
a chibata nas costas de um negro”.
Indignados
com tal situação, a tripulação do Minas gerais, tomou o controle
da embarcação e apontou os canhões para a “Cidade Maravilhosa”.
O recado era bastante claro: Se os maus tratos não parassem, haveria
um bombardeio. Tiveram êxito, pois os castigos (resquícios da
Escravidão) foram abolidos, mesmo com o atraso de décadas,
comparado a países como Espanha, França e EUA. Quanto a anistia dos
revoltosos, mesmo tendo sido garantida pelo então presidente
Marechal Deodoro da Fonseca, não ocorreu.
As
perseguições aos amotinados da Chibata geraram a morte de alguns,
prisões de outros e a expulsão de muitos da Marinha. O recentimento
ainda é vivo, pois em 2008, os oficiais não quiseram que uma
estátua em homenagem a João Cândido ficasse em frente a Escola
Naval. E conseguiram! O monumento está na Praça XV, centro do Rio
de Janeiro, virado para o mar. Nessa mesma praça, trabalhou como
estivador, descarregando peixes. Viveu em absoluta situação de
pobreza, casou-se 3 vezes e foi pai de 11 filhos. Morreu discriminado por uma possível homossexualidade, e esquecido. Aos 89
anos de idade, num dia 6 de Dezembro de 1969, um câncer ceifou a
vida do “Almirante Negro”.
Em
2008, uma lei da então Senadora Marina Silva, que previa a anistia
póstuma com indenização as famílias dos participantes da Revolta
da Chibata foi vetada pela presidência. Alegando um “buraco”
para os cofres públicos, apenas a anistia foi concedida. Mas só que
apenas duas solicitações indenizatória foram feitas. Pois boa
parte dos familiares não tem conhecimento do envolvimento de seus
anscendentes na revolta. Essas duas famílias, uma delas a de João
Cândido, são pobres de ascendência africana. Enquanto que os
familiares daqueles que lutaram contra a Ditadura de 1964, muitos de
classe média e brancos, receberam as devidas reparações
financeiras. Justo?
Este é o tipo de coisa que me deixa revoltado...
ResponderExcluir#ABSURDO