terça-feira, junho 18, 2013

O Gigante Acordou Mesmo?


Quando Gandhi iniciou a Marcha do Sal, talvez não imaginasse o efeito que seu ato iria legar para a posteridade. Naquele tempo, o povo indiano vivia debaixo do colonialismo britânico. Uma gama de produtos industrializados era trazidos da Inglaterra, os pobres não tinham acesso, e ainda por cima, não poderiam lavrar sua própria terra e nem produzir o próprio Sal. Foi com o intuito de quebrar esse monopólio que a “Grande Alma” juntou 68 pessoas para uma caminhada de quase um mês até chegar ao mar. Por fim, o movimento não-violento teve quase 60 mil pessoas, e mesmo centenas dela sendo presas ou agredidas pelo policiamento, entre os detidos estavam o próprio Gandhi, não recuaram.

A luta não se resumiu aquela caminhada, e no ano seguinte, o Vice-Rei permitiu que o sal fosse produzido pela população. Não tardou para que a consciência coletiva fosse atrás de outras causas e lutasse por nada mais, nada menos, que a sua própria independência. Com muito esforço, algumas perdas e uma sede de justiça indescritível, tiveram êxito outras vez. E o boicote ao sistema foi a principal arma daquele povo. Boicotavam os produtos vindos da Inglaterra, teciam até as próprias roupas, mas não cooperavam com o sistema. Também eram insubmissos as leis que apenas asseguravam a manutenção das desigualdades econômicas e sociais.

Pois bem, aqui no Brasil ficam postando no Facebook que “O Gigante Acordou”, mas sinceramente eu ainda acho que esse tal gigante está muito sonolento. Ontem houve marcha pra tudo que é lado. Mas o que fico a perguntar é o seguinte: Qual o desfecho dessas manifestações? Será que o povo sabe a quem se reportar? Acredito até, que boa parte nem sabe ao certo o que estão reivindicando. Vejo uma série de frases de efeito, que falam de mudança e blábláblá. Todavia, como é que faz pra mudar? O que se faz pra mudar? Andar, andar e andar? Apitar? Vaiar? Cantarolar? Quebrar? Incendiar? Vou dizer como é que muda:

Na urna! Isso mesmo, na urna. Lembrem-se que 2014 é ano eleitoral. Será que os que vaiaram Dilma não serão os mesmos que irão votar nela? Os que foram as ruas exigindo mudanças, vão deixar de eleger o candidato corrupto? Os governantes que aumentaram tarifas, mandaram a polícia baixar o sarrafo nos seus cidadãos e faturaram muito com o evento da FIFA, porventura não serão reeleitos? Pensem nisso, pois já diz um velho ditado: Cão que muito ladra, não morde.

Hoje, vi pessoas postando uma sugestão de manifesto: Cantar o Hino de costas no próximo jogo da Seleção Brasileira. Ah vá...O importante não é cantar, de costas, de frente ou plantando bananeira. Se você comprou o caríssimo ingresso, a FIFA agradece. O Governo agradece, e você mais uma vez foi lesado, feito de trouxa, enrolado, achando que é um revolucionário que irá modificar os rumos de nossa nação. Quero muito ver a revolução acontecer. Quero primeiramente que a hipocrisia deixe de reinar em nossa sociedade, e que atos de justiça sejam praticados cotidianamente. Já dizia o Mahatma: “Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo.”

5 comentários:

  1. acredito q vc sabe muito bem q no início de uma mobilização não é possível prever o seu desfecho. a "desorganização", a "falta de metas objetivas", faz parte deste processo. como um blogueiro que se preza, vc deveria aderir a imprensa alternativa e falar em prol das mobilizações. o que está acontecendo, nas grandes capitais do país, é uma grande marcha pra declarar as autoridades que não é mais possível que nossa democracia fique estagnada; precisamos avançar. pelo q eu percebi vc prefere urna a rua, sendo assim, sugiro a vc que no Natal deste ano peça a PAPAI NOEL seu presente de Natal, sugiro q peças discernimento para o povo brasileiro na hora do voto. por fim, ressalto que seu texto ta um tanto quanto contraditório,usa um exemplo anarquista e pede pra protestar nas urnas. aproveito a oportunidade pra te fazer o convite pra manifestação no Recife, Praça do Derby, dia 20 as 16h, vamos pra rua dialogar. grande abraço!!!!!
    inaldo bezerra jr

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  2. Acredito que a questão é mais profunda... Nos anos 60/70 lutávamos pelo direito de, dentre outras coisas, votar. ok, conseguimos! Mas e aí, agora vamos ser espectadores do processo? Então a nossa Democracia se resume a isso? Ir de 2 em 2 anos, no segundo domingo do mês de Outubro, à nossa zona eleitoral, eleger nosso representante e esperar, que ele corresponda a todos os nossos anseios, sem que sequer nos pronunciemos! É quase messianismo isso! Democracia é muito mais! Tô achando ótimo esse movimento, que tem diversas caras e classes, mas que, acima de tudo, é um movimento da sociedade civil! e o que é melhor: apartidário! Que todos e todas vão às ruas sim! Indignados e inquietos! E, porque não, com frases de efeito, afinal: "saimos do facebook, pra mudar o país e não é por 20 centavos!"

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  3. Sinceramente, é preciso separar bem as coisas. Sem exageros, vamos analisar melhor as coisas.
    Caro Guego, amigo e irmão de muitas horas. Primeiramente falando, o meu texto não está contraditório. Não cito exemplos anrquistas. A luta de Gandhi fez surgir dois países de uma colônia. Só pra lembrar: Índia e Paquistão.
    Descordo completamente do que vc falou a respeito da desorganização. Parte do processo? Tanto o exemplo que usei, quanto outros mais recentes, como a Primavera Árabe, nos mostram que existia um foco. E FOCADOS, os manifestantes atingiram seus objetivos.
    Não espero a mudança de Papai Noel e nem espero a mudança de Mascarados do V de Vingança.
    E Carol, a democracia não se resume ao processo eleitoral, mas sem dúvida, no nosso contexto, ele é o elemento mais importante dela. O que questiono é que se votássemos bem, teríamos menos corrupção. O que adianta tanta marcha, se no fim das contas, as reivindicações não surtirem mudança em 2014 e os mesmos políticos continuarem a atuar impunemente.
    É preciso organização sim! É preciso conciliar cobrança e voto! Se não é só mais um carnaval...
    Até iria pra manifestações, se alguém me garantisse que teria uma pauta, uma meta (como o exemplo da Marcha do Sal).
    Sugiro que se forem ocupar algum prédio público, saiam de lá apenas na condição de renúncia de pelo menos 10 fichas-sujas. Por que até agora, de todas as manifestações, nenhuma delas mudou nada. Mudou?
    Não estou a serviço de nenhuma mídia, apenas manifesto a opinião de que é necessário uma pauta mais sólida e que as atitudes gerem transformações. Esse é apenas o segundo de uma série de textos sobre o que está acontecendo no país.
    Entendi que não é por 20 centavos, todavia desejo saber então pelo que é.

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  4. seu texto está contraditório sim. as marchas de desobediência civil na índia, onde diversas pessoas morreram, eram organizadas? a primavera árabe era/é organizada, olha o exemplo do Egito, olha a Síria. não há um manual a ser seguido, as mobilizações são pra informar que estamos de saco cheio com o modo como as coisas são conduzidas nesse país. queremos saúde, educação, segurança, transporte de qualidade, menor carga tributária, mais justiça, contra a pec 37 e muitas outras coisas. estamos apenas exercendo a parte que nos cabe em nossa democracia. mas pelo que percebo vc acha que só nas urnas há esperança, pois bem, me indica um candidato, ou melhor em quem vc votou nas últimas eleições. venha pra rua e traga consigo sua pauta, se vc acha que deve ocupar algum lugar e só se retirar quando tiver sua causa solucionada vá pra rua e recrute simpatizantes. o que vc deve entender é que o meio para mudanças é a rua e não face ou blog. estes são apenas meio de comunicação, portanto vamos pra rua na quinta e discutiremos lá, encontraremos objetividade lá, e tomaremos decisões lá, vem pra rua!!!!!!! e anarquista que se preza não legitima urna, #ficadica #vemprarua

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  5. Não sou anarquista cara, não é pragmático. Apesar de gostar dos libertários, vejo que estão longe de uma mudança profunda. Haja vista que todas as tentativas de colônias anárquicas foram um fiasco...Falo em organização de reivindicações, falo de pauta. Não dos métodos de atuação. Não vou pra rua enquanto não ver foco nas manifestações. Nem adianta me chamar pra isso. Organize vc, recrute vc, tem inteligencia e capacidade pra fazer isso. Comece fazendo algo melhor, esclareça ao pessoal o que de fato fazem ali. Explique o que é a PEC 37, ou melhor, o que faz o Ministério Público. Agora para de bancar comercial da FIAT e não me chama pra participar de algo que não tem ao menos um desfecho traçado.

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